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Domingo das Missões
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG.
 
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O texto do Livro do Profeta Isaías que a liturgia nos oferece à reflexão neste domingo, como conclusão do capítulo 53, em que a comunidade, depois de contemplar, atônita e sem entender, a humilhação do Servo de Javé, a quem Deus quis esmagar pelo sofrimento, compreende que Ele próprio quis se oferecer em sacrifício expiatório para justificar a humanidade e redimi-la do pecado, é também bem próprio para este Dia das Missões: “por meio dele o desígnio de Deus triunfará. Após o trabalho fatigante de sua alma verá a luz e se fartará.”(cf. Is. 53, 10-11)

A Igreja foi enviada pelo Divino Mestre para anunciar às nações a misericórdia de Deus, realizada na morte do Cordeiro em quem caiu o castigo que nos deveria dar a paz.

O anúncio evangélico é essencialmente dizer a todos os povos que Cristo carregou sobre si nossas iniqüidades e por sua morte resgatou-nos para a vida a que, Ele próprio, na sua humanidade nos precedeu, ressuscitando dos mortos.

Custamos, nós mesmos, a levar esta fé às suas conseqüências últimas, a uma conversão sincera de nossas vidas. Da mesma forma que os discípulos, depois de tempos seguindo a Jesus, ainda pensamos num reino material em que sejamos servidos, em que pretendamos sempre ter o primeiro lugar.

Como poderemos pregar a Boa Nova e mostrar aos povos o Novo Reino, se não o construímos entre nós e dentro de nós!

Com paciência infinita, Jesus depois de ouvir a pretensão de João e Tiago e ver a indignação dos demais que pretendiam a mesma coisa, voltou a repetir o que já lhe preceituara inclusive que, para serem seus discípulos, deveriam a Ele se assemelhar no seu sacrifício e tomarem sua cruz a serviço de todos.

“A vida espiritual é a alma de todo o apostolado”, ensina D. Columba Marmion. Uma vida de íntima comunhão com Deus que se irradiará na comunhão com o próximo. O missionário não é a si que prega. Como o apóstolo Paulo, por meio de seus sofrimentos unidos à paixão do Senhor, o cristão anuncia o Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gregos (cf. 1Cor.1,1).

Hoje, com evolução dos meios de comunicação e a exposição que nos dão, temos a tentação de nos aproveitar da Palavra de Deus e da sede evangélica das multidões, sequiosas para ouvi-la, para nos exibir.

Ninguém pode dar o que não tem, diz o antigo provérbio. E se não temos uma vida espiritual profundamente alicerçada na fé, traímos a mensagem de Cristo.

O caminho não é o vozerio e as palmas e mesmo multidões eletrizadas. A João Batista acorria todo o povo. Ele jamais, porém, pregou a si próprio. Anunciou o Cristo que chegava e de quem ele não seria digno sequer de tirar-lhe as sandálias. Pregava a conversão e a penitência, de que ele próprio dava exemplo, vestindo-se de pele grossa de camelo e alimentando-se parcamente. E pela verdade sofreu o martírio.

As nações e os povos têm necessidade de quem lhes possa trazer a paz. Esta a missão da Igreja. Assemelhando-se ao seu Fundador, pela cruz deve mostrar a todas as gentes o caminho da salvação. Não pode trair o legado que lhe foi dado.

Discípulos de Cristo e membros desta santa Igreja, aprofundemo-nos numa vida de fé, convertamo-nos na sinceridade de vida, para que sejamos verdadeiros apóstolos e proclamemos que pela cruz atingimos a Luz. “Per crucem ad lucem”.



 
 
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