Frei Inácio Larrañaga, o incansável missionário de Jesus Cristo |
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG. |
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Frei Inácio nasceu em Azepetia, País Basco, no ano de 1928 e se ordenou sacerdote, ordem dos Capuchinhos em 1952.
Sua obra missionária é extensa. Em 1974 iniciou os ENCONTROS DE EXPERIÊNCIA DE DEUS, uma semana em silêncio, dedicada unicamente à reflexão e oração, ministrado por ele mesmo em 33 países, três continentes e do qual participaram centenas e centenas de pessoas.
Em 1984 fundou as OFICINAS DE ORAÇÃO E VIDA, serviço eclesial aprovado pela Santa Sé, difundida em 44 países, cujo objetivo principal é ensinar o povo de Deus a relacionar-se, metodicamente, com Deus, restaurando o encanto da vida e o encanto de Deus.
No Brasil as OFICINAS DE ORAÇÃO E VIDA já se encontram há 25 anos e neste período, milhares de pessoas, homens, mulheres, jovens, casais, foram evangelizados por esse serviço eclesial de incomparável beleza, onde o trato de amizade com o Deus único é avivado, criado ou restaurado e as pessoas que passam pelas OFICINAS voltam a se encantar pela vida e pelo Deus, Pai, que a todos ama de forma gratuita e pessoal.
Nos últimos anos, desenvolveu uma intensa atividade evangelizadora específica para grandes massas, em teatros, ginásios e estádios, onde ao lado de palestras sobre a pessoa de Jesus Cristo, o Senhor, trata do relacionamento entre casais e, principalmente, se dedica a reavivar o trato pessoal com Deus.
Além dessa tarefa evangelizadora é autor de diversos livros de mística e, em verdade é o autor católico mais lido em todo mundo. Suas obras, escritas em espanhol, foram traduzidas para os idiomas mais falados em todo o mundo.
Destacamos de sua imensa obra literária: Mostra-me teu rosto, O Pobre de Nazaré, O Irmão de Assis, Sofrimento e Paz, Suba Comigo, A arte de ser Feliz, O Silêncio de Maria, Casamento Feliz.
Frei Inácio Larrañaga Obregoso, incansável e destemido apóstolo de Jesus Cristo, o Senhor, no périplo mundial “Ao Encontro Contigo” esteve em Belo Horizonte, onde proferiu 3 palestras memoráveis: Para Casais, Ao povo em geral e uma palestra especial para os Guias das Oficinas de Oração e Vida.
Na palestra para os Casais destacou os diversos entraves para que o casamento seja uma união feliz e para toda a vida e que o maior deles é o egoísmo, na qual cada cônjuge se fecha em si mesmo e vê no seu companheiro, objeto de desfrute. Outro entrave sério é a falta de comunicação, não apenas diálogo, mas a revelação do ser interior de cada cônjuge. Destaca que o verdadeiro amor importa em infinita paciência, especialmente, no período de adaptação dos casados, quando o verdadeiro eu de cada um é revelado de par a par e cada um se dá a conhecer. O verdadeiro amor se conhece quando um se sacrifica pelo outro, ao dar sua vida para o outro, que não se trata de morrer pelo outro, mas empenhar todo seu ser na felicidade um do outro, morrendo aos impulsos mais selvagens, suavizando as arrestas, tratando o outro como pessoa, ser criado à imagem e semelhança de Deus.
A única maneira de constituir um casamento feliz, construção de cada dia, é morrer aos impulsos egoísta do coração e isso só é possível se o casal tiver presente a figura incomparável de Jesus Cristo e diante dele perguntar sempre nos épocas de conflitos: “O QUE FARIA JESUS NO MEU LUGAR?”
E desta forma, o casal vai copiando dia a dia, pouco a pouco, os traços positivos de Jesus: humildade, paciência, veracidade, ternura, pureza de espírito, solidariedade, abertura para o outro e com isso forma uma mentalidade conforme a pessoa de Jesus Cristo.
Na palestra para o povo em geral, tratou da doutrina inesgotável do abandono, palavra equivoca, mas que em si nada tem de passivo.Trata-se de abandonar o negativo do coração, com um não aos impulsos negativos e um sim a tudo o que vai de encontro a esse negativo.
Na vida há fatos que não se pode mudar, por exemplo, o tempo passado. O que passou minutos atrás, não volta, ainda que choremos um lar de lágrimas. É inútil lamentarmos um fato que aconteceu no passado, pois, isso jamais, ainda que choremos copiosamente, poderia não ter acontecido. É um fato irreversível.
Se estivermos diante de um fato irreversível não aceitá-lo é uma loucura, seria semelhante a alguém que fica batendo a cabeça contra a parede. Quem sofre a cabeça ou a parede?
Diante de um fato irreversível temos duas alternativas: ou ficarmos lamentando e sofrendo por algo que não podemos mudar ou fazer um ato de fé e depositar nosso desgosto nas mãos todo poderosas de nosso Deus e Pai.
Deus na organização geral da vida criou leis imutáveis que governam o universo, como por exemplo, a lei da gravidade, a lei da liberdade humana. Se uma pessoa, numa tempestade vai passando perto de uma construção e o vento faz despregar uma pedra e eu passo em baixo, essa pedra vai cair e vai me matar.
Veja bem, Deus todo poderoso, poderia revogar a lei da gravidade e suspender a queda da pedra em minha cabeça, mas se não o faz e respeita essa lei por Ele mesmo criada, é sinal que a permite e desta forma, o abandono consiste em aceitar essa vontade de Deus.
Se um invejoso destrói minha reputação e me deixa totalmente desacreditado, Deus poderia impedir esse desastre, através de um infarto cardíaco no invejoso. Mas se não faz, permite e desta forma, pela fé, aceito que em todo ato humano o elo final está nas mãos de nosso Deus e Pai.
As pessoas sofrem, porque vivem relembrando fatos tristes, que já aconteceram e que nós, ainda que derramemos um mar de lágrimas, não se pode deixar de que tenham acontecido.
Outra coisa, se fico relembrando uma ofensa, acontecida, por exemplo, há 10 anos, muitas vezes o ofensor está por aí, dançando e festejando, e o ofendido relembrando fatos, odiando e seu ódio não atinge, sequer um dedo do ofensor.
Precisamos acordar e acordar é sofrer menos. Se aquilo que me acontece posso mudar é hora da luta. Se estamos diante de fatos que não posso mudar, fatos irreversível, o melhor que podemos fazer é aceitar e abandonar-se nas mãos poderosas e carinhosas de Deus, Pai, que, ainda, que não tenha sido a causa de nosso desgosto, o permitiu.
Não sabemos nada. O que poderia ter acontecido se este fato que aconteceu há anos não tivesse acontecido? Olhando para trás, quantas vezes, um fato que considerávamos o maior mal, na verdade foi o maior bem e carinho do Pai.
Quem poderia imaginar que na cena do calvário, aquele cadáver ensangüentado, boca aberta, sem vida, quando tudo daquele homem fora destruído, perdeu os amigos, sua doutrina foi considerada ofensa a Deus, seria na verdade o maior bem para humanidade? Não sabemos nada.
Na segunda parte da palestra, Frei Inácio, de maneira mística, demonstrou que toda oração de profundidade é humanizadora, isto é, quando oramos, nos aproximamos mais de nossas fontes interiores, nos voltamos para Deus e, desta forma, nos tornamos mais próximos do novo homem criado por Jesus Cristo.
Cristo Jesus, sendo de condição divina, não se negou assumir nossa humanidade e, para recriar o homem, desceu aos abismos mais terríveis e sofreu a morte mais cruel e vergonhosa, a morte de Cruz.
Cícero diz que os romanos tinham duas maneiras de executar a sentença de morte, uma tida como nobre, destinada aos cidadãos romanos, a decapitação e outra vergonhosa, destinada aos escravos, terroristas e não romanos, a crucifixão. De maneira que Cristo morreu de uma morte cruel. Vergonhosa, morreu como um infame e, isso, por cada um de nós. Cristo não morreu pela humanidade ou pela Igreja, mas por cada um de nós, como diz Paulo.
Cristo amou a mim, morreu por mim e criou um novo homem.
Assim, toda oração de profundidade é humanizadora, pois nos leva a nos conformar com o novo homem, novo Adão, nascido das chagas abertas de nosso Senhor Jesus Cristo.
Finalmente, Frei Inácio, de uma maneira mística incomparável, destacou que o Cristo Jesus, hoje, com um coração desprendido de adesões aos bens materiais, pobre, manso, humildade, solidário com o homem é o único que pode salvar o homem da sociedade pós-moderna.
Essa sociedade, sustentada pela supremacia do eu e despida de valores, sem qualquer vinculação com Deus imortal, banido pelos meios de comunicação, tendente ao niilismo, ao nada, somente pode ser salva, se voltar para Cristo Jesus, manso, humilde e pobre.
Num final muito feliz, diz que os cristãos da época das perseguições romanas, se ocultavam em catacumbas e grutas e tiravam sua força na contemplação diária de Cristo Jesus, morto e ressuscitado e de suas bocas sofredoras saia um grito dolente, mas confiante: MARANTA, vem. Senhor Jesus.
E com a força do Cristo, MARANATA, enfrentavam sorrindo a morte, os açoites. Esse grito, também, Frei Inácio, faz ecoar, forte e vibrante: Vem, Senhor Jesus. Vem, Senhor Jesus. Vem e salvai-nos dessa sociedade neo pagã, hedonista, sem rumo, sem valores, sem Deus.
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