Viver o cotidiano buscando a santidade |
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG. |
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O psicólogo espanhol Enrique Rojas, em sua obra “O Homem Moderno – A Luta Contra o Vazio” (Editora Mandarim, 1996), diz que no final do século, se veria a sociedade do bem-estar no Ocidente, “sociedade, em certa medida, doente que emerge o homem moderno ou light, um sujeito cuja bandeira é uma tetralogia niilista: hedonismo-consumismo-permissividade-relatividade. Tudo é custurado pelo materialismo” (in Prólogo, pág. 11).
Contrapondo ao “homem light”,ele nos apresenta o “homem sólido”, ou seja, o homem que vai na direção do bem, que está repleto de amor, isto é, o homem que vai na direção daquilo que sacia a profunda sede do infinito que todos trazemos dentro de nós (pág. 32). Esta afirmação do grande psicólogo é uma verdade já constatada por Santo Agostinho: “nosso coração está inquieto, enquanto não descansa em Deus”.
Pois bem, viver o cotidiano em busca da santidade, nada mais é do que encontrar aquele relacionamento com Deus, que aquieta e silencia todo niilismo que nosso mundo nos oferece. Temos da santidade uma idéia muito negativa, parecendo que santo é aquele que se priva de tudo e tem uma vida triste e desconsolada. Todavia, todo ser humano, criado à imagem de Deus, como diz a Bíblia Sagrada, traz em si a sede do infinito, que somente o infinito, Deus, pode lhe saciar.
Jesus Cristo, no Sermão da Montanha, no capitulo 5º do Evangelho de São Mateus, apresenta à multidão que o ouvia o caminho da santidade e da alegria de viver, ao proclamar as bem-aventuranças: pobreza de espírito, consolação dos aflitos, mansidão, misericórdia, pureza de coração, propagadores da paz, sofrimento em prol do reino de Deus, perseguição e injúrias pelo nome de Jesus. Todavia, para trilhar esse caminho, é necessário ter o coração em Deus e utilizar os critérios de Deus, “encontrar um tesouro”; não julgar, perdoar e amar aqueles que nos perseguem. No dizer o Mestre de Nazaré, viver, enfim o amor.
São Paulo na Primeira Carta aos Coríntios traz as seguintes características do amor cristão: “O amor é paciente, o amor é benigno; não é invejoso, não se vangloria, não se inflama de orgulho, nada faz de inconveniente, não procura o próprio interesse, não se irrita, não leva em conta as injustiças sofridas, não se alegra com a injustiça, mas congratula-se com a verdade; tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”(Capítulo 13, 4-8).
A santificação pela vivência do cotidiano passa, pois, pela vereda das bem-aventuranças, pela prática do amor cristão, que nada mais é do que a descoberta do reino de Deus, tesouro escondido, pérola preciosa, que nos faz empenhar todo nosso esforço, quando os encontramos. Aquele que descobriu as chaves do reino, não julga ninguém, nem pela aparência presente, nem pelo passado, enfim, não faz pré-julgamento, mas congratula-se com a verdade, tudo desculpa, tudo crê, tudo espera do ser humano.
Isto é viver o cotidiano em busca da santidade.
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