O momento da Igreja |
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG. |
|
Leia os outros artigos |
|
Misteriosa é a ação de Deus! Sendo onipotente, Ele dá seu poder ao homem para agir no mundo. Nada lhe impõe. Respeita a sua liberdade de ação.
Foi assim quando criou o universo e todas as suas maravilhas e as entregou ao homem para que as dominasse e as enriquecesse com suas obras.
Julgando-se um deus, a criatura humana transtornou o mundo que deveria completar e, pelo seu pecado de orgulho de tentar se assemelhar a Deus, gerou a destruição e a morte.
O plano misericordioso do Pai, que buscava tudo restaurar, na pessoa de seu Filho, que assumiu a contingência da carne, exigia também a cooperação do homem.
Esta condição humana limitava o poder da Palavra, que se encarnou, no espaço e no tempo. Sua doutrina, exposta nas colinas da Galiléia ou na majestade do templo não se estendia além daqueles limites geográficos. O acontecimento da sua morte e da sua ressurreição que restaurava o plano divino ficaria circunscrito à cidade de Jerusalém.
E eis que o Senhor Jesus, insufla nos corações de seus discípulos o seu Espírito: “Assim como o Pai me enviou eu também vos envio. Recebei o Espírito Santo. A que perdoardes os pecado ser-lhe-ão perdoados, a quem os retiverdes, ser-lhe-ão retidos”(Jo.20,21-22).
E, partindo da terra, na glorificação junto ao Pai, levando consigo a humanidade de que fora revestido, conclamou os discípulos a levarem a boa nova até os confins da terra, lavando, pelo batismo, no seu sangue, a marca do pecado, santificando todas as coisas.
Seu Espírito Santo se derramou sobre os apóstolos e e sobre os discípulos de todos os tempos em toda a face da terra. Somos testemunhas do Cristo que está conosco: “Eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos”(Mat. 28,20).
A partir a ressurreição do Senhor, a Igreja, que nasceu na sua cruz, suplantou o medo, pela força do Divino Espírito e pôs-se em missão.
A obra do amor divino, completada na morte e na glória da ressurreição do Senhor, tem de ser anunciada até chegar a todo o mundo. São Paulo, o apóstolo das gentes, exclamava, “ai de mim se não evangelizar”.
Sabemos que “todo mundo está posto no maligno”(2Jo.5,19) e palavra da cruz é loucura para eles do mundo, porque herdaram a raiz do pecado e não a querem arrancar de seus corações.
Eis porque também se cumpre a palavra do Mestre que nos predisse que seríamos perseguidos como Ele o foi, mas não deveríamos desanimar, porque, conforta-nos Paulo, a fraqueza de Deus e a loucura do Evangelho são mais fortes que a fortaleza dos perseguidores e a sabedoria dos sábios.
“Aquele que for derrotado no serviço em favor dos pobres, pelo amor de Cristo, viverá como o grão de trigo que morre. A colheita chega porque o grão morre. Nós sabemos que todo esforço para melhorar a sociedade, sobretudo quando a sociedade é plena de injustiça e de pecado, é esforço que Deus abençoa, que Deus quer, que Deus determina”, pregava D. Oscar Romero, pouco antes de ser assassinado.
A Igreja está colocada como o farol a guiar todos os que navegam nas águas tempestuosas. Como cristãos temos de trabalhar para a reconstrução do mundo segundo plano divino. Nossa presença de Igreja deve pautar nossa ação em todas as atividades, atestando por nossa vida a fé que professamos na esperança do novo céu e da nova terra, pela qual todo o universo anseia.
O anuncio do mistério pascal, vivido por nós na realidade de todos os dias, no esforço contínuo para refletirmos em tudo o que fazemos a Boa Nova do Cristo, é o encargo que recebemos para completar no tempo, a vontade divina de salvar toda a humanidade.
|