Há um relato no Evangelho de São Lucas (Lc.19,1-10) que nos diz de um certo homem, rico e poderoso, que desejava ver Jesus. Chamava-se Zaqueu e era de pequena estatura, mas, certamente, muito conhecido do povo porque, por sua riqueza, sabia como explorar os necessitados. Sabendo que Jesus iria passar por Jericó, onde morava, e que muita gente o cercava, subiu em uma árvore para poder realizar seu intento.
Desconhecia o caminho da graça que o impelia àquele ato. Germinava em seu coração, como demonstrou a sua alegria ao ouvir a voz de Jesus, muito mais que a curiosidade, o desejo de conhecer o Mestre, de o sentir.
Como aqueles gregos que, no meio da multidão que aclamava o Filho de Davi com ramos e palmas, rogaram a Filipe: “Queremos ver Jesus” (Jo 12, 22). Ver, isto é conhecer, aprofundar –se no mistério que encarnava-se naquele Homem.
Ao ver Jesus, Zaqueu deixou-se penetrar inteiramente por ele e repeliu de dentro de si todo o mal que aí se escondia. Vou partilhar os meus bens com os pobres e se a alguém lesei vou retribuir em quádruplo, assim falou.
A salvação chegara a sua casa, proclamou o Senhor, como aos gregos anunciou a sua glorificação, o reconhecimento pelo Universo do mistério da redenção.
Ver Jesus. Esses dois acontecimentos nos mostram quão longe andamos em nossa fé. As exterioridades são mais importantes. Comovemo-nos diante da imagem do Cristo em sua paixão. Exteriorizamos nossa alegria nos votos pascais. Mas, neles vivemos?
Como São Tomé, se não virmos as mãos e pés com o sinal dos cravos e o seu coração rasgado não acreditaremos na sua ressurreição e no novo mundo que nasceu desta cruz. Desconhecemos o mistério. A cruz não tem sentido. Não vamos em frente. Mas, “Felizes aqueles que não viram e creram” (Jo 20, 29). Felizes aqueles que compreenderam o significado da Paixão como revelação do amor supremo de Deus.
Ver a Jesus é exclamar com o mesmo Tomé, depois que Jesus lhes mostrou suas chagas gloriosas no seu corpo ressuscitado, e ele, uma vez convertido: ”Meu Senhor e meu Deus”; é deixar-se impregnar do mesmo amor que o fez o Filho de Deus dar a vida por nós e ressuscitar para que nós com Ele fôssemos glorificados.
Ver Jesus é quando conformamos nossa vida com a dele, portando sua cruz na esperança da ressurreição. E nos tornarmos mensageiros desta esperança, a vitória sobre o pecado, a restauração de todo o Universo.
São Gregório de Nissa, falando sobre comunhão eucarística, quando, pela misericórdia divina, antecipamos o banquete da parusia neste Pão que encerra em si o universo impregnado de Cristo, ensina “O pão eucarístico é mais forte que nossa carne; eis porque é ele que nos assimila não nós quando o tomamos.”
Na realidade, nos afirma São Paulo, tudo nele subsiste” (Col. 1,17); Ele enche todas as coisas (Col. 2,10), de tal sorte que “Cristo é tudo em todos” (Col.3,2).
Ver Jesus é mergulharmos neste oceano de amor que, enchendo com seu espírito todas as coisas, nos torna um com Ele, nos santifica para a glória do Pai.
|