Reflexões sobre a exigência da vocação sacerdotal |
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG. |
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A vocação sacerdotal, como a vocação batismal que lhe é o fundamento. É uma missão permanente. Lucas, no seu Evangelho (9,57-62), narra a caminhada de Jesus para Jerusalém, onde iria completar sua missão.
Três episódios são relatados, todos eles sobre o chamado, sobre a vocação. Ao primeiro, que se dispunha a segui-lo aonde quer Ele fosse, anuncia que a vida apostólica não tem descanso: “As raposas têm tocas e as aves do céu seus ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde descansar a cabeça.”(9,58).
Aos outros dois chamados e que levantavam obrigações sociais e até mesmo de piedade, para depois atenderem o convite, Jesus não omite a clareza da exigência: “Ninguém que olha pra trás, depois de ter posto a mão no arado é apto para o Reino de Deus.”(Id.v.62)
A gente deve estar sempre disponível nas mãos de Deus, como Samuel na sua simplicidade quase infantil: “Fala, Senhor, que teu servo escuta” (1Sam. 3, 10) E aí não há que se priorizar nada, nem o sepultamento dos mortos, nem o afeto familiar.
As exigências da vida sacerdotal, e sobretudo quando se recebeu a plenitude do sacerdócio, nos obrigam a ter o coração sempre aberto para os caminhos que o Senhor nos mostra em cada momento da vida.
Somos enviados ao mundo para anunciar a salvação, para erradicar as ervas daninhas, destruir os castelos da mentira. A vocação profética, como no profeta Jeremias não nos deixa calar ao mesmo tempo que, na esperança, lançamos os alicerces de um mundo novo na celebração do mistério da cruz, na morte e ressurreição de Jesus.
Estamos às vésperas da Semana Maior, da Semana Santa, em que avivamos pelas celebrações este mistério que centraliza nossa fé, que é também o centro da História.
Jesus, sabendo que chegara a sua hora tomou resolutamente o caminho de Jerusalém, porque lá deveria oferecer o sacrifício de sua vida ao Pai para a redenção da humanidade. Na sua condição humana, sentia a repulsa ao sofrimento e à dor. Mas, não voltou atrás. Tendo assumido a si o plano da salvação, já ao entrar neste mundo oferecera o sacrifício de sua vontade ao Pai (Hb.10,5).
Também nós, vocacionados, temos de subir a Jerusalém. Quando atendemos o chamado e colocamos a mão no arado, sabíamos que cabe ao discípulo de Cristo tomar a sua cruz e seguir o Mestre (Lc 9,23).
São Paulo, escrevendo a Timóteo sobre os sofrimentos do apostolado, exorta-o: “Assume comigo tua parte de sofrimentos como bom soldado do Cristo Jesus” (2Tim. 2,3).
Não que por nós mesmos sejamos capazes, mas temos a certeza do dom de Deus. “Não foi um espírito de timidez que Deus nos deu”, pela imposição das mãos em nossa ordenação. “Foi um espírito de coragem, de amor de autodomínio” (Idem 1, 7).
Fortificados pela graça, assumimos a missão. Ouvimos a voz do Mestre que nos diz para olhar a messe já pronta para a colheita. E então dizemos: Eis-me aqui, Senhor.
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