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Afonso de Ligório e Inácio de Loyola.
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG.
 
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O mês de agosto, mês vocacional na Igreja do Brasil, começa com a celebração das festas litúrgicas de Santo Afonso e de Santo Inácio.

Podemos iniciar a reflexão sobre a vida desses dois grandes santos relembrando o texto evangélico do moço piedoso, que cumpria toda a lei e que, perguntando ao Mestre, o que deveria fazer para entrar no Reino, foi-lhe respondido para a tudo renunciar e segui-lo.

E o santo Evangelho conclui a narrativa do episódio, dizendo que aquele jovem ficou muito triste ao ouvir o convite, foi-se embora, “porque era muito rico”.(Cf. Luc 18,18; Mat.19,16 e Marc. 10,17)

O contrário ocorreu com os santos que ora comemoramos. Ambos da mais alta nobreza, freqüentando os palácios reais, realizados na vida, Afonso no meio jurídico, doutor “in utroque jure”, um dos mais altos títulos do direito, Inácio, o combatente das armas do rei, receberam o mesmo convite.

E começaram uma volta inversa à do jovem rico. Dramática, mas consciente e definitiva. Oito dias de reclusão voluntária, em jejum e oração até ser atingido pela graça, Afonso abaixou o orgulho profissional ante uma derrota injusta e reconheceu a futilidade da glória terrena: ”Agora, ó mundo, te conheço”, exclamou.

Deixou a toga e foi cuidar dos enfermos abandonados na cidade de Nápoles e, contra tudo e contra todos, abraçou o sacerdócio. Poderia, ainda, como sacerdote, receber as honras eclesiásticas, gloriosas em tempo de uma Igreja unida e de certa forma impondo-se ao Poder Civil.

Mas sentiu o apelo dos pobres nas montanhas napolitanas, abandonados pelo Estado e. triste, pelo clero. Com um grupo de companheiros lança fora qualquer resquício do poder e das riquezas e dão-se de corpo e alma à evangelização dos pobres – “O Senhor mandou-me evangelizar os pobres e curar os de coração contrito.”(Isaías) Ferido em combate, na convalescença, Inácio procurou livros de cavalaria.

Não os encontrou. Displicentemente começou a ler a vida dos santos e concluiu: ”se eles puderam se santificar, por que não eu?” Seguiu-se uma segunda leitura, a Vida de Cristo por Ludolfo de Saxonia e, finalmente, a Imitação de Cristo, que o acompanhou até o fechar dos olhos.

Retirou-se na Abadia de Montserrat, onde diante da imagem negra de Maria, depositou sua espada e começou a escrever os Exercícios Espirituais na própria vida, antes de nô-los legar, como estrutura fundamental da conversão e dos retiros espirituais. Buscou acertar os seus caminhos nas trilhas do Senhor até encontrar-se com um grupo de jovens na Universidade de Paris e partir para a epopéia da evangelização.

Ambos a serviço do Senhor na Igreja, ministrando a Palavra e os Sacramentos, dispensando a copiosa redenção para a maior glória de Deus. O Espírito que os moveu e guiou pereniza-se na Igreja.

Fazendo frente ao laxismo e ao rigorismo que afastavam as almas das fontes da salvação, Afonso orienta o cristão, na sua obra máxima, a Teologia Moral, para caminharem na gloriosa liberdade dos filhos de Deus. Prega o amor a Jesus Cristo e as Glórias de Maria.

Os exercícios espirituais inacianos perduram como base de uma conversão firme e definitiva para a luta sob a bandeira de Cristo. Nos colégios e universidades, nas ciências e na cultura, no trato das almas, os Jesuítas persistem no trabalho de Inácio e dos seus companheiros que, num primeiro momento pensavam numa peregrinação à Jerusalém e lá trabalhar, e nunca a puderam realizar, mas, incendiaram o mundo, como cantou Castro Alves, ao dizer que as naus portuguesas, as quilhas de Castela, do holandês a galé, “levaram, sem o saber, ao mundo inteiro,/ os arautos divinos do Cordeiro,/os Átilas da fé”.

Quem não conhece o trabalho apostólico dos Redentoristas? Como o Santíssimo Redentor, enviados às ovelhas do novo Israel,(Cf. Mat. 15,24) levam a mensagem da esperança sobretudo aos que não têm pastor nos rincões do sertão ou no deserto das grandes cidades e sua periferia. Já Santo Afonso reunia, como numa comunidade de base, nas praças, os trabalhadores e artesãos que, pela sua pobreza, não se sentiam em condições de entrar nas igrejas.

Com eles rezava e explicava a doutrina. Aos desanimados e aflitos, aos pecadores, os Redentoristas abrem o Evangelho, mostrando-lhes o amor misericordioso do Salvador e o perpétuo socorro de Maria. Voltando ao texto dos Sinóticos, pois é idêntica a narração, também os discípulos foram tentados a perguntar ao Mestre, sobre o que teriam como recompensa por terem abandonado tudo para segui-lo. E Jesus lhes diz que possuiriam o cêntuplo e a vida eterna.

Afonso e Inácio tem uma descendência fecunda e, no céu, já gozam da plenitude da vida.

Hoje louvamos a glória que receberam de Deus. Mês vocacional.

Que os nossos corações e mentes estejam abertos à voz de Deus e que tenhamos coragem de deixar tudo, como fizeram Inácio e Afonso e seguir os caminhos do Senhor.



 
 
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