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Tabor e Calvário:Glória e sofrimento para ver o ressuscitado!
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG.
 
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Retornando de Belém hoje, quando tive a grata alegria e a honra de pregar o Retiro para o Clero daquela Arquidiocese importante centro irradiador da fé Mariana que nos aponta ao Redentor, estamos continuando o nosso “grande retiro popular” chamado Quaresma, tempo de conversão, de penitência, de abstinência, de jejum e de mudança de vida. Por isso nesses dias retirado não poderia me descuidar de olhar diante da Liturgia do próximo domingo, o Segundo Domingo da Quaresma, quando nós iremos refletir acerca de nossos Patriarcas: Abraão e Issaac.

No Livro do Genêsis (Gn 22,1-2.9.10-13.15-18) nos é apresentado Abraão como Modelo de Fé. Abraão saiu de sua terra e foi para um lugar desconhecido porque, pela Vontade do Pai, foi feito Pai do grande povo hebreu.O que o motivava? A Palavra de Deus, sobretudo após o dramático sacrifício de Issac. E tudo isso somente foi possível porque Abraão escutou a Voz de Deus e seguiu a sua Palavra Salvadora, sem nenhum condicionamento. Ao contrário Abraão renunciou ao Passado, quando deixou sua terra e sua gente e agora, disposto a sacrificar o Futuro, oferece o filho Issac, depositário das promessas. Nós somos, também, chamados a renunciar ao passado, ao pecado, ao ódio, a violência, a toda a manifestação externa de pecado, para vivermos no Hoje o Futuro glorioso do céu para aqueles que são fiéis a Palavra Salvadora, ao Deus da Vida.

São Paulo na Carta aos Romanos(Rm 8,31-34) retoma a figura de Isaac, subindo o monte Moriá, com a lenha do sacrifício às costas, como imagem do Cristo que também sobe ao mone Calvário, crregando às costas o lenho da Cruz, carregando todos os pecados da humanidade. A obediência é o grande recado desta leitura. Quem é obediente, como Cristo, até a Morte e Morte de Cruz, vai vencer todos os obstáculos do Pecado e todas as seduções do Mal para viver a virtude.

Marcos nos apresenta hoje a fé dos Apóstolos(Mc 9,2-10). Para aqueles que queriam um itinerário de seguimento de Jesus repleto de glória e poder veio o desânimo e o desapontamento. Jesus chamou três apóstolos subiu o Monte Tabor e "transfigurou-se…" E quando estavam no Monte Tabor, houve a proposta de Pedro: "É bom estar aqui! Vamos fazer três tendas...". Em seguida, houve-se a proposta de Deus: "Este é o meu Filho amado, ESCUTAI-O!". Ao transfigurar-se aos discípulos, Jesus revela a glória da Ressurreição,e atesta que ele é o FILHO AMADO DE DEUS, apesar da Cruz que se aproxima.As figuras de Elias e Moisés ressaltam que a Lei e as Profecias são realizadas plenamente em Jesus.

Todos nós, como cristãos, somos também convidados a subir com Jesus a montanha e, na companhia dos 3 discípulos, viver a alegria da comunhão com o Salvador.As muitas dificuldades da caminhada não podem nos desanimar. No meio dos conflitos, deste vale de lágrimas que maquina contra a vida, tentando construir a cultura da violência em contraste à cultura da Vida, o Pai nos mostra desde já sinais da ressurreição

e do alto daquele monte ele continua a nos gritar: "Este é o meu Filho amado, ESCUTAI-O". Diante de todas as dificuldades do mundo e da própria caminhada de fé não somos chamados a não nos desanimarmos, ao contrário, reavivar a nossa fé, como adesão inteligente às verdades da nossa Tradição, do Magistério Pontifício, sempre na esteira da Sagrada Escritura. Por isso, a fé no Senhor Jesus é  a Adesão de nossa vida a Deus,acolhendo Deus que quer fazer sua história junto conosco e fazer a vontade de Deus(tanto no Tabor, como no Calvário)porque todo esse caminho é graça, é  Dom gratuito de Deus. Para que nosso bom propósito seja alcançado é necessário uma Resposta a Palavra de Deus, um Serviço generoso no apostolado do Redentor e uma Ruptura com os ídolos mundanos, com a conseqüência adesão ao Senhor, escutando atentamente o que Jesus nos diz, seguindo seus passos na confiança inabalável, mesmo diante das incompreensões. Se assim procedermos Reconheceremos o Cristo desfigurado, presente na pessoa de nossos irmãos, particularmente dos  afastados, incompreendidos e excluídos, particularmente aqueles que se assemelham ao Monte Calvário. O Documento de Aparecida nos conclama a sermos discípulos-missionários.

Ao chegar aqui em casa, lendo as manifestações do Papa Bento XVI nesta Semana, observei que o Papa ao se dirigir aos párocos romanos manifestou uma preocupação premente com a identidade do sacerdote e com o seu compromisso com o atendimento da confissão. Termino minha mensagem desta semana com esta oportuna advertência do Beatíssimo Padre na Quaresma, tempo de penitência e de conversão: Quando as pessoas vão ao confessionário, afirmou, «vão sem máscaras, com seu próprio ser. A sacristia não está no mundo, mas na paróquia. E lá, quem procura o pároco são os homens, geralmente sem máscaras, sem outros pretextos, mas em situação de sofrimento, de doença, de morte, de questões familiares»,explicou o Papa. «Quem melhor que o pároco conhece os homens de hoje? Nenhuma outra profissão, acho, dá esta possibilidade de conhecer o homem como é em sua humanidade, e não no papel que tem na sociedade», acrescentou. Neste sentido, observou o Papa, os sacerdotes «podem estudar realmente o homem em sua profundidade, longe dos papéis, e aprender eles mesmos sobre o ser humano, ser homem na escola de Cristo». Escutar os homens nos tempos atuais é Subir ao Tabor e mostrar aos corações feridos o Cristo Transfigurado. Que Deus nos ajude a Ver o Tabor, mas não ter medo e coragem de carregar a nossa cruz diária, pela conversão para viver com fé o Calvário, na espera da Ressurreição do Senhor Jesus. Boa Quaresma e bons exercícios quaresmais, numa autêntica conversão de vida e de estado.



 
 
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