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Carta Pastoral na abertura do ano judiciário de 2009
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG.
 
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O Senhor é Deus de justiça (Is 30,18).
Deus sentou-se para sempre no seu trono,
Preparou o tribunal do julgamento;
Julgará o mundo inteiro com justiça,
E as nações há de julgar com equidade (Sl 9,8-9).

No início deste ano judiciário desejo a todos os operadores do Direito de nosso Tribunal que busquem o Senhor nosso Deus e o acharão, se o procurarem com todo o coração e com toda a alma (Dt 4,29). Nessa busca renovem seu amor a Deus e à Igreja. É bom lembrar a advertência do Senhor: Mas tenho contra ti que abandonastes o teu primeiro amor (Ap 2,4). Deus é amor (1 Jo 4,16). E Jesus Cristo, Deus o destinou para sacrifício de expiação dos pecados, por seu próprio sangue, mediante a fé. Assim queria manifestar a sua justiça (Rm 3,25).  Portanto, amarás o Senhor teu Deus com todo o coração, com toda a alma, com todas as forças (Dt 6,5), e este amor se manifestará no zelo pela lei do Senhor (cf. At 21,20) a lei do Senhor esteja sempre na tua boca (Ex 13,9). Ao iniciar os trabalhos em nosso Tribunal, lembro algumas virtudes que devem possuir aqueles que se dedicam a servir a Nosso Senhor Jesus Cristo nesse organismo Eclesiástico:

  1. A paciência: com os colegas e o povo. Lembremo-nos que o amor é paciente, é benigno, não é invejoso; o amor não é orgulhoso, não se envaidece, não se irrita, não guarda rancor; não se alegra com a injustiça mas regozija-se com a verdade; tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta (1 Cor 13,4-7). Lembremo-nos da parábola do devedor cruel, onde o servo de joelhos pede: Senhor tem paciência comigo e te pagarei tudo (Mt 18, 26). Tenhamos paciência, para que Deus tenha paciência conosco.

  2. A bondade: especialmente para com aqueles que nos procuram para fazermos justiça. Pela bondade e misericórdia nos mostramos ministros de Deus. Na parábola do Semeador, a boa semente são os filhos do Reino (cf. Mt 13,38). Pois Deus mostra-se bondoso para conosco (cf.1Ped 2,3). E sua bondade dura para sempre (Sl 52,1).
  3. A misericórdia: ou seja, ter o coração perto daqueles que erram, pelo bondoso perdão. Pois o juízo é sem misericórdia para com aquele que não usou de misericórdia (Tg 2,13). E que o exercício da misericórdia seja feito com alegria (Rm 12,8).

  4. A alegria, que deve contagiar o ambiente de trabalho. Deus reclama daqueles que não o servem com alegria e de bom coração (Dt 28,47). A alegria é um dom do Espírito (cf. Gl 5,22). A alegria torna-se força de Deus para superar as dificuldades (Ne 8,10). O servidor do Senhor possui alegria no coração (cf. Sl 4,7). Servi ao Senhor com alegria (Sl 100,2).

  5. A oração: Vigiai e orai para não cairdes em tentação (Mc 14,38). O ambiente de trabalho nos tribunais deve ser uma liturgia que se eleva aos céus. O trabalho realizado com amor a Deus e ao próximo, com o coração contrito é o verdadeiro sacrifício agradável a Deus (cf. Mc 12,33 e Hb 10,5-7). Vou louvar-te com coração reto, ao aprender tuas justas decisões (Sl 119,7. 172). Não só no início e ao final, mas interrompei o trabalho e orai, vivei e trabalhai em espírito de oração (ora et labora). Cantai hinos ao Senhor Deus de Sião, celebrarei seu grandes feitos entre os povos! (Sl 9,12).
  6. A sabedoria: buscai o saber jurídico para o exercício da caridade. Estudai, pesquisai, tende sempre presente a jurisprudência dos Tribunais superiores da Santa Sé. Primeiro aprofundai-vos na Palavra de Deus (cf Eclo 1,5), conhece os pensamentos do Altíssimo, que vê as visões do Todo Poderoso, cai em êxtase e tem os olhos abertos (Nm 24,16), e depois no saber jurídico. Este último sempre em função da vontade divina e da caridade (cf. Lc 22,42 e Hb 10,9). Toda a sabedoria vem do Senhor Deus (Eclo 1,1).

  7. A verdade: na aplicação da justiça temos que agir pela verdade e na verdade. Quem pratica a verdade vem à luz, para que as obras apareçam, pois são feitas em Deus (Jo 3,21). Jesus é Caminho, Verdade e Vida (Jo 14.6). Obedecei à verdade (cf. Gl 5,7).
  8. A perfeição: não o perfeccionismo. Que o vosso trabalho seja realizado com esmero, dedicação e perfeição. Portanto, sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito (Mt 5,48). A perfeição é a virtude da ordem do processo jurídico, que respeita todas as fases, que é saneado constantemente. Esta qualidade está não só no sujeito que age, como no objeto do agir do sujeito.

  9. A ajuda mútua: o Tribunal é uma família onde cada um cumpre os seus deveres e obrigações fazendo com que haja uma ordem em vista do bem maior, uma justiça eficiente e rápida. Este ambiente deve formar uma verdadeira comunidade (cf. At 2,42), onde se trabalha para a salvação de todos (cf. At 2,47).
  10. A liberdade: Quem, no entanto, se aplica em meditar a lei perfeita da liberdade e nela persevera, não como ouvinte que facilmente esquece, mas como cumpridor, este será feliz naquilo que faz (Tg 1,26). Fomos chamados à liberdade (cf Gl 5,13) para andarmos segundo o espírito do Senhor (cf Gl 5,16) e sermos guiados pelo Espírito e não fazermos o que queremos (cf Gl 5,18), mas atentos à vontade de Deus.

  11. A humildade: fomos escolhidos para uma missão especial. Temos que resolver casos de consciência, apresentando soluções claras, objetivas, nítidas, para servirem de base e apoio à orientação da conduta pessoal. Cercam-nos de respeito; fazem-nos confidências delicadas, sigilosas; pedem-nos conselhos; depositam em nós profunda confiança. Jamais poderemos confundir autoridade e autoritarismo (cf. Mt 7,29; 28,18; Jo 5,27); o incenso é só devido a Deus (cf. Lv 16,13). Somente com a humildade (cf. Mt 5,3; 11,29; Tg 4,6) realizaremos nosso ideal sacerdotal de servidores da Justiça e asseguraremos a fecundidade de nosso ideal de servos. Busquemos o modelo do Mestre Jesus: aniquilou-se a si mesmo e assumiu a condição de servo (Fl 2,7). É preciso que tenhamos os mesmos sentimentos dele (Fl 2,5). Qui se existimat stare, videat ne cadat (1Cor 10,12).
                                            
    Temos que comparecer diante do tribunal de Deus (Rm 14,10) e se tivermos vivido conforme a justiça do Senhor seremos considerados incólumes e teremos parte com o Senhor. A todos abençôo de coração, desejando um profícuo trabalho em Cristo Jesus, o Justo.


 
 
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