Guiados pela Luz |
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG. |
|
Leia os outros artigos |
|
Passados 40 dias desde o Natal, celebramos, a 2 de fevereiro, a solenidade da Apresentação do Senhor. Essa comemoração, de forte tradição oriental, cheia de simbolismos, conclui o ciclo do Natal e nos encaminha, ao longo do Tempo Per Annum e na celebração dos Mistérios de Cristo, à união mística com Ele.
O cumprimento daquele preceito judaico especificamente, assim como tantos outros observados por José e Maria e até mesmo pelo próprio Jesus, encerra em si um significado muito mais elevado. É um sinal do encontro do Salvador com aquele que veio salvar, o que os orientais chamavam de “Hypapante”. É quando se acende ante os olhos dos bem-aventurados anciões Simeão e Ana a Luz que veio para iluminar as nações, glória do povo de Israel. “Agora podeis deixar vosso servo ir em paz” (Lc 29,32), cantou o velho Simeão, “homem justo e temente a Deus”, ao vislumbrar no pequenino que tinhas em seus braços a redenção do povo de Israel.
A Liturgia nos traduz a importância dessa comemoração, a começar pela bênção das velas. Muito mais do que um sacramental, resguardado pela piedade popular e pela tradição religiosa de nosso bom povo, vindo de além-mar, a vela benta simboliza Cristo nessa celebração, a “Luz para iluminar as nações” (Lc 2,32). Os fiéis adentram a Igreja em procissão; é a entrada de Jesus no Templo. As orações que se seguem remetem àquela manifestação a Simeão e a Ana, que cantam maravilhados a chegada daquele que há gerações era aguardado.
A observância é uma outra indicação dessa festa. Maria Santíssima, sendo cheia de graça, concebida sem o pecado original, preservada da corrupção da carne, ainda assim se submete à Lei de Moisés, apresenta seu Filho no Templo e se apresenta ao rito da purificação. Aliás, até a reforma litúrgica, em 1969, esta solenidade era da Purificação de Maria Santíssima. Essa observância traduz-se num gesto de humildade, de obediência, de conformidade com o que o Pai lhes indica.
A comemoração de 2 de fevereiro é, ainda, a festa das mães. Tanto isso que o novo Ritual prevê a bênção de uma gestante (tempo de espera) e da mãe de um recém-nascido (gratidão pela graça recebida), não com o sentido mosaico, mas com uma nova interpretação com respeito ao dom da maternidade e a importância de cada um no plano da salvação. É uma forma de dar um realce maior a essa festa litúrgica, incentivando os casais às práticas religiosas, com vistas ao crescimento espiritual, formando-se membros conscientes e ativos do Corpo Místico.
Assim, pois, desejamos que todos celebrem e possam haurir as graças dessa solenidade da Apresentação do Senhor, “memória conjunta do filho e de sua Mãe” (Paulo VI, “Mairalis cultus”, 7). Devemos sempre responder plenamente ao sentido místico que a Sagrada Liturgia nos propõe, na meditação da Palavra e, consequentemente, na sua vivência no nosso dia-a-dia, exercendo sempre o ministério comum que o batismo nos confere de discípulos e missionários de Cristo.
|