A valorização da Liturgia. |
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG. |
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É oportuno que valorizemos a
Liturgia e observemos suas normas. “Ela é o cume,
para o qual se dirige a ação da Igreja e, ao mesmo
tempo, a fonte donde emana toda a sua força” (SC10).
Por esta sua sublime dignidade, a Liturgia é substraída
às iniciativas individuais e aos caprichos da moda.
“Regular a Sagrada Liturgia compete unicamente à
autoridade da Igreja, a qual reside na Sé Apostólica
e, segundo as normas do direito, no Bispo. Portanto, ninguém
mais, absolutamente, ouse, por sua iniciativa, acrescentar,
suprimir ou mudar seja o que for em matéria litúrgica”
(SC 22).
São orientações com expressões fortes,
objetivas, concretas e que todos nós entendemos perfeitamente,
contudo, nem sempre zelamos para que, na prática, sejam
observadas.
João Paulo II chegou mesmo a fazer este apelo: “Sinto
o dever de fazer um veemente apelo para que as normas litúrgicas
sejam observadas, com grande fidelidade, na celebração
eucarística. Elas constituem uma expressão concreta
da autêntica eclesialidade da Eucaristia; tal é
o seu sentido mais profundo. A Liturgia nunca é propriedade
particular de alguém, nem do celebrante, nem da comunidade
onde são celebrados os santos mistérios”.
O Apóstolo Paulo corrigiu a comunidade, no seu tempo,
de certas distorções nas celebrações
(1Cor. 11, 17-34). Atualmente, também, deve ser redescoberta
e valorizada a obediência às normas litúrgicas,
como reflexo e testemunho da Igreja, una e universal, que se
torna presente em cada celebração da Eucaristia.
A ninguém é permitido aviltrar este mistério
que está confiado às nossas mãos: é
demasiado grande para que alguém possa permitir-se de
tratá-lo a seu livre arbítrio, não respeitando
o seu caráter sagrado e a sua dimensão universal.
(EE 52).
Bento XVI, ainda como cardeal, afirmava: “o homem não
pode 'fabricar' por si mesmo o seu próprio culto: ele
agarra somente o vazio, se Deus não se mostra. A verdadeira
liturgia pressupõe que Deus responda e mostre como nós
podemos adorá-Lo. Ela implica uma certa forma de instituição.
Não pode ter origem na nossa fantasia, na nossa infundada
criatividade, ou numa falsa inculturação, de outra
maneira seria um grito nas trevas ou uma simples auto-afirmação”.
Não podemos fazer da liturgia um jogo vazio, às
vezes, até abandonando o Deus vivo, camuflado sob o mundo
de sacralidade.
A Liturgia, e de modo especial, a Eucaristia, é o lugar
privilegiado no qual a Igreja confessa a sua fé. E a
confessa de forma mais elevada, ou seja, no diálogo de
amor com o seu Senhor. Diálogo que, na sua expressão
litúrgica, se caracteriza pelo fato de que não
está em jogo apenas um crente ou um grupo de crentes,
mas sim a própria Igreja. Trata-se de uma oração
“pública”. É a “ação...
a cujo título e grau de eficácia nenhuma outra
oração da Igreja se equipara” (SC 7). “A
Sagrada Liturgia está intimamente ligada aos princípios
da doutrina, e o uso de textos e ritos não aprovados
comporta, por conseguinte, a debilitação ou a
perda do nexo necessário entre a “lex orandi e
a lex credendi” (RS.10).
Não podemos e nem devemos fazer da liturgia “uma
zona franca” de experiências e de arbítrios
pessoais, não justificados por nenhuma boa intenção.
Uma atuação arbitrária, de fato, não
só altera a celebração, mas provoca insegurança
doutrinal, perplexidade e escândalo no povo de Deus (RS.
11).
Na realidade, os abusos, mais do que expressão de liberdade,
manifestam ao contrário, um conhecimento superficial
ou até ignorância da grande tradição
bíblica e eclesial que deu vida às atuais formas
litúrgicas.
Criatividade: às vezes, em nome da criatividade, introduzem-se
coisas que nada têm a ver com a liturgia e sim invenções
de indivíduos ou de comissões. A nós, bispos,
aos párocos, às Comissões de Liturgia,
cabe a tarefa de cuidar para que a observância exterior
das normas litúrgicas no que diz respeito a palavras
e gestos, cantos e imagens, vestes e objetos, tempos e lugares,
corresponda a uma renovada e constante atenção
para que não apenas sacerdotes e seminaristas, recebam
uma correta e intensa formação litúrgica,
mas todos os fiéis de nossas comunidades, principalmente
as equipes de Liturgia.
O respeito exterior dos rituais é fruto consciente de
uma profunda interiorização, iluminada pela fé,
da conotação divina da sagrada liturgia, dom que
vem do alto, entregue não à arbitrariedade de
grupos ou de indivíduos, mas ao Corpo Místico
de Cristo, à Igreja, conduzida pelo Espírito Santo,
mediante o ministério peculiar do Sucessor de Pedro e
do Colégio Apostólico.
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