A vida do cristão é uma caminhada. Os primeiros cristãos , narram-nos os Atos dos Apóstolos eram tidos como os adeptos do Caminho. Paulo, ainda Saulo, “respirando ameaças e morte” contra os discípulos do Senhor, “pediu ao Sumo Sacerdote cartas para a sinagoga de Damasco, a fim de levar presos a Jerusalém todos que encontrasse adeptos do Caminho” (Cf. At.9,2). No seu discurso, já convertido, quando preso em Jerusalém, ele diz: “Persegui até a morte este Caminho, acorrentando e lançando na prisão homens e mulheres” (Idem 22,4).
Com efeito, Jesus é o Caminho. Na última Ceia, naquele colóquio de despedida com seus discípulos, quando Tomé lhe pergunta: “não sabemos para onde vais, como poderemos saber o caminho?”, Jesus lhe responde: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (cf. Jo.14, 5-6).
Não podemos deitar raízes senão na eternidade, na pátria celeste. Até aí chegar, temos de sair de nossa terra e caminhar para as paragens que Deus nos mostrará. É a caminhada da fé, do rompimento com o pecado.
Depois de Adão, expulso do paraíso, os homens se achavam perdidos. Na angústia reflexiva de Abrão, o Senhor lhe disse: “Sai da tua terra, da tua família e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei” (cf. Gn.12,1). E Abraão partiu na certeza da fé, alegrando-se por ver o dia de Cristo(cf. Jo.8,56), a realização de sua esperança. A luz que ilumina todo homem que vem a este mundo.
Isaías profetizara: um povo que vivia nas trevas viu uma grande Luz (cf. Is. 9). E todos aqueles que a receberam tornaram-se filhos de Deus pela graça(cf. Jo. 1). Os que crêem em Cristo não andam nas trevas. Caminham à sua Luz.
Há alguns anos, sobretudo nas pequenas comunidades de base e entre aqueles que sentiam a necessidade de renovação da Igreja à luz do Concílio do Vaticano II, insistia-se na caminhada da renovação do Espírito. Não que a Igreja estivesse parada, mas, atenta aos sinais do tempo, sentia o sopro divino que tudo renova. De um tempo que transmitia segurança e firmeza, acordamos para as necessidades nossas e do mundo, acordamos para o Evangelho que é Caminho a ser percorrido. É caminhada do povo de Deus pelo deserto até a entrada na Terra prometida.
A Igreja fechada nos templos e incensada numa cristandade que já se tornava histórica, tomou consciência de ser peregrina, de não ter aqui morada permanente,(cf. Hb. 13,14). Voltou nossas mentes e coração para não nos acomodarmos como se aqui tivéssemos de ficar.
Estamos a caminho, em Cristo e com Ele somos o Caminho, não permitindo que não nos guiem conceitos e interesses que passam, ainda que pareçam estáveis, mas a Luz verdadeira, o Caminho que nos leva ao Pai. Por isso, passemos nossos dias como o viajor que utiliza os bens deste mundo sem a eles se apegar, porque tudo passa, como nos ensinam as Bem-aventuranças evangélicas. Só o Absoluto nos deve fascinar.
Enquanto vivemos na carne, não é fácil, sem sombra de dúvida, este Caminho, porque como Cristo mesmo anunciara, os que vivem o Evangelho e o proclamam como enviados, não serão aceitos e serão perseguidos pelo mundo. (cf. Mt.10. 16-40 – Jo.15,18-26). Como Elias fugindo da ameaça de morte, rogamos que Deus nos subtraia a vida, de tal forma ela é pesada. Mas, que nos diz o Pai? Alimenta-te deste Pão da Vida, de Cristo, eis que ainda tens uma longa caminhada. E, nutrido deste alimento, continua o texto do Primeiro Livro dos Reis, o Profeta caminhou até o Monte de Deus, Horeb, onde recebeu forças para continuar sua missão de profeta.
A Imitação de Cristo nos ensina que o cristão onde quer que esteja é um estranho, um peregrino e não tem sossego se não estiver unido a Cristo. Nos céus deve ser a sua habitação e todas as coisas da terra sejam vistas como passageiras. Como um lenitivo para nossa fraqueza, na especulação dos bens celestes que nos estão reservados, manda-nos descansar na paixão de Cristo e habitar na suas santas chagas. (cf. Livro II, cap 1, v.15-21) Nela confirmou Ele seu caminho.
Paulo nos concita a esta caminhada: “Caminhai, pois, no Senhor Jesus, tal como o recebestes, enraizados e edificados nele, apoiados sobre a fé tal como vos foi ensinada, e transbordando de ação de graças.” (cf. Col. 2, 6).
Quem põe a mão no arado e olha para trás, não é digno de mim. Caminhemos com Cristo rumo ao Pai, nosso destino e glorificação final.
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