Conta-se de São Luiz, rei de França que, certa vez, em seu gabinete de trabalho, foi chamado por um dos auxiliares para assistir a um milagre que estaria acontecendo na capela do palácio, durante a missa, quando a sagrada hóstia se transformava no Menino Jesus. Ele, serenamente, respondeu que fossem os outros, porque “eu creio que o sacramento do altar é o próprio Cristo”.
À mesma época, seu contemporâneo, Tomás de Aquino, compondo a liturgia da festa do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, na seqüência, que se reza antes do Evangelho, proclamava: “O que não compreendes, o que não vês, a fé viva o afirma, suplantando a ordem natural... O pão é carne, o vinho é sangue. Sob cada espécie está Cristo totalmente.”
Quando Jesus anunciou que Ele é o Pão do Céu, o Pão da Vida, também muitos não acreditaram: “Esta palavra é muito dura. Quem poderá escutá-la?” (Jo.6,60). E a partir daí, muitos discípulos voltaram atrás, não andaram mais com Ele, o abandonaram.
Mas, Jesus O reafirma: “As palavras eu vos disse são espírito e vida” (idem 63) e disse mais aos Doze: “Não quereis também vós partir? Não, Senhor, também nós dizemos com Pedro:”A quem iremos. Só tu tens palavras de vida eterna“ e nós cremos que és o Filho de Deus.
O sacramento da Eucaristia é o próprio Cristo. Ele, na véspera de sua paixão, no-lo deu, mandando que o fizéssemos sempre em sua memória – toda vez que isto fizermos, anunciaremos a sua morte até que Ele venha – narram os sinóticos e Paulo na sua primeira Carta aos Coríntios (Cf. 1Cor. 11,23-29).
Diferente do maná, que alimentou o povo de Israel no deserto, o Pão Eucarístico nos faz viver eternamente, concedendo-nos na terra, prelibar a comunhão eterna. “Este é o pão que desceu do céu. Ele não é como o que os vossos pais comeram e pereceram. Quem come deste pão viverá eternamente” (Cf. Jo.6,58).
Disse-me, há poucos dias, uma moça, médica, e que vive intensamente a vida eucarística que, na vida corporal, o alimento que tomamos nos transforma, quanto mais, quando nos alimentamos com o próprio Cristo. Ele nos transforma. Ele vive em nós e nós nele. É como me sinto ao receber a comunhão. Devo refletir na minha pessoa o Cristo que está em mim.
Ela expressou o que Jesus mesmo o disse: “Quem come minha carne e bebe o meu sangue fica em mim e eu nele“ refletindo mistério trinitário, pois, Ele com o Pai são um só no Espírito Santo.
A Eucaristia é o sacramento do amor. Do amor de Cristo para com os homens, por quem se entregou à morte, para que tivéssemos em nós a vida divina, que é amor. E o sacramento da unidade e da partilha. A multidão estava faminta e já se fazia tarde, quando Jesus partilhou cinco pãezinhos para todo o povo antes de anunciar esse dom que só poderia brotar de seu coração misericordioso.
Hoje também o mundo está faminto. O noticiário internacional nos fala da escassez de alimento. Mas, não precisamos ir tão longe, à África e à Ásia. Aqui, às nossas portas, há o clamor da fome. Da fome de pão e da fome de Deus.
Somente poderemos participar da mesa da Eucaristia, se também soubermos nos dar aos irmãos. O Evangelista João, que estava ao lado do Mestre, quando Ele partiu o pão e deu o vinho a beber aos seus discípulos nos diz que aquele que fala que ama a Deus, mas tem o seu coração fechado aos irmãos é mentiroso.
A festa do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo é um momento eclesial de expressar coletivamente a nossa fé e gratidão. Vamos participar das solenidades deste dia, particularmente da missa solene das 15hs na Igreja de Bom Pastor e da procissão que sairá daquela paróquia até a Catedral, atestando nossa fé inabalável neste mistério, como os primeiros mártires brasileiros do Rio Grande do Norte que, diante da morte que lhes infringia o herege invasor, confessaram num ato de louvor: Bendito seja o Santíssimo Sacramento.
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