Colunas
 
Pedro e Paulo.
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG.
 
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Comemoramos, nesta semana, a festa dos Santos Apóstolos, Pedro e Paulo, colunas da Igreja que eles, juntamente com os outros Apóstolos e sob a primazia de Pedro, ergueram pelo Espírito Santo depois de nascida no Sangue Redentor derramado na cruz.

“Tu és Pedro e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja.”(Cf. Mt. 16,18). “Este homem é para mim um instrumento de escol para levar o meu nome diante das nações pagãs, dos reis e dos filhos de Israel.”(Cf. At. 9,15)

Paulo, escrevendo aos Gálatas (Cf. 1,15-17), nos fala de sua vocação, de seu chamado pela graça para revelar aos gentios a salvação. E conclui “não consultei carne nem sangue, nem subi a Jerusalém”. Dispôs-se totalmente, entregou-se inteiramente a Cristo.

Bem antes, junto ao mar da Galiléia, dois pescadores, um de nome Simão, ouviram também um chamado, mais simples do que ouvira Paulo na estrada de Damasco (Cf. Marcos 1,16, Lucas 5,11, Mateus 4, 18-20) e, deixando as redes, o barco e o pai, partiram.

Que há de comum entre esses dois homens, de origem e cultura tão diferentes, um na simplicidade e rudeza de sua profissão de pescador, galileu e o outro culto, fariseu, instruído por um mestre da lei, Gamaliel, senão a disponibilidade de um coração sincero, aberto à voz de Deus nos acontecimentos de cada dia?

O Evangelista João (Cf. Jo. 1, 41) nos detalha o encontro de Simão com Jesus: “Tu es Simão, o filho de João; chamar-te-ás Cefas”(que quer dizer Pedra).

Nos Atos dos Apóstolos (Cf. At.9), Cristo enfrenta seu perseguidor: “Saul, Saul por que me persegues?” Não o chama diretamente. Ordena-lhe: “Entra na cidade e lá te dirão o que deves fazer.”

Todos conhecemos a vida desses dois Apóstolos até a sua consumação pelo martírio, em Roma, quando cheios de zelo pelo Evangelho e vivendo o amor eterno, receberam a coroa da glória que lhes estava reservada (Cf. 2 Tim. 4, 6-8).

Em ambos ressalta o imenso amor a Cristo. Em ambos, a sinceridade de sua conversão e de suas vidas.

Os Evangelistas nos relatam que após ter negado o Mestre por três vezes, Pedro chorou amargamente e, no encontro com o Ressuscitado, reconheceu sua fraqueza, respondendo-lhe com toda a humildade, contendo o ardor de seu coração: “Senhor, tu sabes que eu te amo”(Cf. Jo.21, 11-20)

Paulo penitencia-se diante dos Coríntios (Cf. Cor.15,9): “Pois sou o menor dos apóstolos, nem sou digno de ser chamado apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus. Mas, pela graça de Deus sou o que sou: e sua graça não foi estéril em mim.”

Pedro, uma vez convertido (Cf. Lc. 22,32), confirma seus irmãos. É o primeiro a proclamar a ressurreição do Mestre e a convidar o povo de Israel a uma verdadeira conversão no reconhecimento do plano salvífico do Redentor: “Saiba, portanto, com certeza, toda a casa de Israel: Deus o constituiu Senhor e Cristo, este Jesus a quem vós crucificastes”(Cf. At.2,36).

Não mais teve medo, como na noite tempestuosa em que a barca quase submergia. (Cf. Mc. 4, 35-41). Timoneiro experiente, acreditava na graça, e com segurança norteou e dirigiu a nova Barca que lhe fora agora confiada, reconhecendo valores e o arrojo de tripulantes, como o de Paulo, respeitando a prudência e firmeza de Tiago, dando segurança e tranqüilidade a todos.

Como homem precisava também do auxílio e colaboração dos irmãos, por isso, não se insurgiu contra a censura de Paulo diante de sua fraqueza pessoal. Aceitou-a dignamente.

Não foi arrogante diante dos irmãos. Mostrou-se sempre como o foi na vivência com o Salvador, um apaixonado, de grande coração, que daria a vida, mil vidas se tivesse, pelo seu ideal e pelo seu Mestre. Por isso, como a Madalena, muito lhe seria perdoado porque muito amou.

De Paulo não poderíamos falar diversamente. Constrangido a fazer o seu próprio elogio, diante de acusações ao seu ministério, deixa-nos uma página belíssima sobre sua vida apostólica: “Oxalá pudésseis suportar um pouco de loucura de minha parte”(Cf. 2Cor 11, 1). As fadigas, os açoites, as cadeias, os perigos das viagens, a preocupação por todas as Igrejas.”Quem fraqueja que eu também não me sinta fraco. Quem cai, sem que eu também não me sinta febril?”.

Sentia-se também sujeito a fraquezas. Comprazia-se na lei do Senhor, mas sentia em si outra lei que pelejava contra a lei de sua razão: “Infeliz de mim! Quem me libertará deste corpo de morte? (Cf. Rm.7,24). Mas sabia em quem acreditara.

Todos os dias, como Sucessor dos Apóstolos e Pastor próprio desta querida Igreja Arquidiocesana de Juiz de Fora, invoco os santos Apóstolos, sobretudo, Pedro e Paulo, agradecendo a Deus que, por eles nos deu a graça da fé e de conhecer a revelação de sua face no seu Filho.

Agradeço por estar na Barca de Pedro, instruído pela doutrina apostólica de que são um manancial as cartas de Paulo. E rezo pela Igreja, por nossos Pastores sob o primado de Bento, que continuam o ministério apostólico para mantermos o vínculo da unidade no mesmo Espírito do Senhor Jesus, para a glória do Pai.



 
 
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