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O mistério da Igreja
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG.
 
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Dois motivos nos levam nestes dias à consideração do mistério da Igreja. O Santo Padre, o Papa Bento XVI, em visita aos Estados Unidos e àquela Igreja local, lamentou fatos acontecidos e que afetaram profundamente o coração toda a Igreja e sobretudo o coração do Pastor e que mancharam imagem daquela porção do Povo de Deus.

A outra motivação é a leitura da Carta de Pedro que nos foi lida na liturgia da missa deste domingo, o V depois da Páscoa, confirmando que somos o Novo Povo de Deus, pedras vivas de um edifício espiritual, todos os que cremos e confessamos que Cristo é o Senhor. “Raça escolhida, sacerdócio régio, nação santa, povo conquistado por Deus para proclamar as maravilhas daquele que nos chamou das trevas à luz admirável” (Cf. 1Pd. 2,9)

A propósito, vale relatar de São José Maria Escrivã, o fundador da Opus Dei, que, ao chegar a Roma e vislumbrar a Basílica de São Pedro, rezava a Profissão de Fé, o Credo, e, ao afirmar sua adesão ao mistério da Igreja, uma, santa, católica, humilhava-se em seu coração penitente e acrescentava “apesar de seus pecados, de sua culpa”.

A Igreja é divina e humana. Nascida do sangue redentor de Cristo transpassado pela lança, tem a missão de iluminar o mundo (Cf. Mc. 16, 15) com a mensagem evangélica, com a claridade de Cristo que resplandece na sua face. Sacramento, sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano vai construindo na terra o Reino de Deus, de que é a imagem.

Divina, tem a assistência do Espírito Santo que a confirma e santifica para que, por seu sacramento, possam os homens, pela fé, aproximar-se do Pai. Leva-a ao conhecimento da Verdade total, unifica-a na comunhão e a faz sempre renascer das cinzas do pecado na purificação do amor.

Vivendo no deserto deste mundo, está sujeita às fraquezas e insuficiência da natureza humana, como nos diz Santo Agostinho: “entre as perseguições do mundo e as consolações de Deus, avança peregrina.” Na vida do Redentor, Ele próprio o sentiu no medo dos apóstolos que fugiram na hora da cruz e cujo chefe chegou a negá-lo. Contra Ele, aquele que com ele próprio ceava levantou o calcanhar, na linguagem profética, relatada por São João (Cf. Jo. 13,18). O apóstolo Paulo em sublime confissão diz que “quando quero fazer o bem é o mal que se apresenta a mim” (Cf. Rom. 7,21).

A vida do cristão é uma luta constante em busca do ideal da santidade, “donec formetur Christus in nobis – até que seja formado Cristo em nós”. É um processo que parte de nossa adesão à fé no batismo. Aí haurimos a água que dá a vida e nos integramos na Família de Deus. Não éramos um povo, estávamos excluídos da misericórdia divina. Agora, juntos com esta Comunidade de Fé, caminhamos e proclamamos a salvação. Santificamos o universo, pois, participamos do sacerdócio régio de Cristo (Cf. 1Pd. 2,10).

No meio desta semeadura, nascem também o joio e os espinheiros e quantas vezes o vento leva o polen destas ervas daninhas a mesclar-se com a flor do trigo. Na parábola, o Mestre diz para deixá-las crescer até a colheita (Cf. Mt.13,24-31). São as chagas da Igreja que devem levar-nos a um sentimento de dor, como Paulo sentia quando disse de sua solicitude com todas as Igrejas (Cf. 2Cor. 11, 28-29), mas ao mesmo tempo de fé e confiança, pois Cristo venceu o mundo.

“Andando através de tentações e tribulações, a Igreja é confortada pela força da graça de Deus, prometida pelo Senhor, para que na fraqueza da carne não decaia da perfeita fidelidade, mas permaneça digna esposa do seu Senhor e, sob a ação do Espírito Santo, não deixe de renovar-se a si mesma, até que pela cruz chegue à luz que não conhece ocaso”(L.Gentium nº 26).

Somos o Corpo Místico de Cristo, cuja cabeça é o mesmo Cristo, que por nós morreu e ressuscitou e que nos deu o seu Espírito que nos faz filhos de Deus. Temos por lei o amor e por meta a dilatação do Reino que Ele mesmo iniciou para restabelecer no Universo a gloriosa liberdade dos filhos de Deus. A Igreja, apesar de todas as vicissitudes, é para o mundo, germe de unidade, esperança e salvação.



 
 
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