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Os sofrimentos do Senhor Jesus.
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG.
 
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Estamos às vésperas da Semana Santa quando meditaremos mais profundamente sobre a paixão e morte de Cristo, o seu sofrimento, o mistério da redenção que nos restaurou a vida que perdêramos pelo pecado.

Temos um legado cultural que muito nos ajuda na contemplação dos sofrimentos do Senhor. Multiplicam-se pelo País, sobretudo em nossa Minas Gerais, os atos piedosos que lembram e vivenciam em penitencias coletivas, diversas etapas da Paixão de Cristo.

As vias sacras, as procissões do Encontro, do Senhor Morto, da Senhora das Dores, as melodias e sermões que as acompanham e o brilho das solenidades litúrgicas não são apenas encenações, mas uma memória viva em que entrechoca-se  a conduta do pecador e as dores do  Homem Jesus e as agruras do coração  materno  de Maria.

Pena que, sobretudo pela mídia, se apresentem apenas como herança cultural sem o aprofundamento da fé que os inspiraram e ainda inspiram na sua participação piedosa muitos do nosso povo, sobretudo as pessoas simples. A civilização materializada de hoje transforma esses dias penitenciais e de silêncio em mais uma ocasião de lazer desvinculada da fé.

São Paulo, escrevendo à Comunidade de Filipos, fala da suprema humilhação de Cristo, que aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo, obediente até a morte de cruz (Cf. Fil.2,5-8).

Foi reconhecido e tratado como homem e último dos homens e julgado como herético pelos judeus, porque se fizera Filho de Deus e como criminoso pelos Romanos que, por Pilatos, entenderam que se opunha a César. Deram-lhe a morte infamante na cruz, ao lado de dois ladrões.

Realizava-se o que o Livro da Sabedoria já predissera do Ministério da Iniqüidade contra o Justo: “Condenemo-lo a morte infame, porque, como disse, Deus cuidara dele” e “Pois se o Justo é Filho de Deus. Ele o assistirá e libertará das mãos de seu adversários” (Cf. Sab. 2, 20 e 18)

Naquele momento, comoveu-se a terra, que tremeu, os céus se fecharam nas trevas e na escuridão. O próprio Pai Celeste o abandonara, pois carregava em si o pecado de toda a humanidade. Estava só, pendurado num madeiro, oferente e vítima, fazendo uma ponte entre o céu e a terra. “Meu Deus, meus Deus, por que me abandonastes? (Cf. Mc. 15,34)

Vindo para iluminar as trevas em que o mundo estava imerso foi rejeitado pelo seu povo. Ele curou suas feridas, fez os surdos ouvirem e os cegos enxergarem. Ao ressuscitar Lázaro, as Forças do Mal não mais o suportaram. Era a “gota d’água” de todo um processo de perseguição. Ele que era o Senhor da Vida, tinha de morrer. Caifáz sentencia: “Não compreendeis que vos convém que um só homem morra pelo povo em vez de perecer toda a nação? “ (Cf. Jo. 11, 50) Mas, segundo narra São João, como sumo sacerdote que era,  profetizara e,  continua o Evangelista,  e não só pela nação, mas ofereceria sua vida para reunir na unidade todos os filhos de Deus que andavam dispersos.

O profeta Isaías, faz-nos ver a figura do Servo de Javé, o mais belo dos filhos, totalmente desfigurado: “ Como muitos ficaram pasmados à sua vista, por demais desfigurado para ser de homem o seu aspecto, e sua forma já não era a dos filhos de Adão”. (Cf. Is. 52,14). Pilatos, querendo livrá-lo das mãos dos judeus, entregou-à à soldadesca para o flagelar e coroar de espinhos, para zombar dele. “Ecce homo”.

Já antes, no Horto, Jesus sentira-se carregado de todos os crimes da Humanidade. Suara sangue. Pediu ao Pai que o livrasse daquela hora. Abandonado pelos amigos. Traído por Judas. Orou`: “Pai,afasta de mim este cálice. Mas não se faça a minha vontade, mas a tua.” (Cf. Lc.22,42).

Carregando a sua cruz, saiu para o lugar chamado Cavário onde foi crucificado.

Não podemos compreender este mistério do amor de Deus, que não poupou seu próprio Filho, mas o entregou à morte por nós.

A meditação do passos da Paixão de Cristo é uma constante na vida da Igreja e deve ser também na nossa vida e conduzir-nos a amorosa adoração deste amor que tanto nos amou e que ser amado por nós. Que na simplicidade do nosso coração, possamos rezar como São Francisco: “Que eu morra Senhor por amor do vosso amor, Vós que vos dignastes morrer por amor do meu amor.



 
 
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