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A luz da fé.
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG.
 
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Ainda há pouco tempo, a falta de chuvas fazia as autoridades temerem por um que se entendeu de apelidade de “apagão”. A falta de energia elétrica que ameaçava e, com isso, o racionamento no fornecimento. As noites ficariam mais escuras, com a iluminação diminuída e pela energia elétrica ter-se-ia de pagar mais.

Os mais velhos ainda nos lembramos da iluminação precária e, na roça, a sua falta que a luz tênue e fraca das velas e lampiões multipliczvam, nas sobras, os fantasmas de nossa infância.

Padre Sertillanges, em um livro de reflexões diárias – Recolhimento – 10 minutos de cultura espiritual por dia – nos fala, em uma dessas meditações , sobre a vida em plena luz..
No fundo, só vivemos de luz.”. Física, intelectual e espiritualmente dependemos da luz.

Na natureza, a luz absorvida pelos corpos se transforma em vida para todos os seres. Na vida intelectual, o pensamento e a idéia nos levam ao movimento criativo que nos impulsiona, nos arrasta. O movimento, a ação é expressão da vida.

Espiritualmente, a fé nos arranca das trevas do pecado e nos traz a luz da Verdade que gera a vida eterna. O Evangelho de Jesus Cristo narrado por João nos mostra a vinda do Redentor como a chegada da Luz que ilumina toda a criação, numa interação Luz e Vida e a Palavra, o Verbo que tudo restaura na Verdade.

O apóstolo Paulo nos concita a vivermos esta vida do espírito, ao aderirmos a Cristo. A mentira e a escuridão da morte não tem mais vez naqueles que se abriram à fé. Como que em essência, em resumo de toda a pregação apostólica, ele nos ensina, na Carta aos Efésios; “Agora sois luz no Senhor. Caminhai como filhos da luz”(Cf. Ef.5,8)

Ora, os que são iluminados, conhecem os caminhos, sabem evitar as ribanceiras e os tropeços. Não que, por vezes, algumas sombras e cores escuras ainda apareçam na pintura do quadro de nossa vida, pois resistem em nós às fraquezas da carne, como confessa o mesmo Paulo, na epístola aos Romanos: “sabemos que a Lei é espiritual, mas eu sou carnal, vendido ao poder do pecado. Realmente não entendo o que faço, pois não faço o que quero, mas faço o que detesto” (Cf. Rm. 7,14-16).

Retomando a meditação de Sertillanges, há cores escuras no quadro de nossa vida. Todas as cores aí aparecem, mas o importante é que sejam também elas impregnadas de luz. Quantas vezes lemos nos santos Evangelhos, do próprio Cristo, o perdão e o incentivo a deixar-se conduzir dali para a frente pelo clarão da fé que brotava do coração arrependido: “não tornes a pecar”.

Na leitura do Evangelho deste quarto domingo da Quaresma, chama-nos a atenção a gratuidade do dom de Deus e o realce entre a aceitação amorosa da fé contra a dureza de corações orgulhosos cheios da prepotência e sabedoria dos homens.

Diferentemente de outros sinais, aqui o cego nada pede. Nem conhecia quem estava passando. Jesus ouvira um questionamento dos seus discípulos a que responde mostrando ser Ele a Luz, e demonstrando com a cura do cego de nascença.
As autoridades, os fariseus que se deixaram cegar nos corações, não reconhecem a presença do Reino que irrompia no seu meio: “Se fôsseis cegos, não teríeis pecado; mas porque dizeis: nós vemos”, vosso pecado permanece” (Cf. Jo.9,41). No entanto, o que era cego, gradualmente, vai chegando à graça. Confessa que não sabia quem o curara. Declara-o um profeta. É expulso da comunidade. Abre-se à revelação: “Creio, Senhor. E prostrou-se diante dele” (Cf. Jo. 5,38).

Como o cego, deixemos que Cristo nos faça ver –“eu vim para os que não vêem vejam”, e gradualmente vamos caminhando ao seu clarão até conseguirmos a plenitude da vida e contemplemos aquela Luz Verdadeira, o nosso Deus.



 
 
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