Um Hino ao Mandamento Divino |
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG. |
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No Antigo Testamento, o salmo 119 (118) é todo um hino de louvor à Lei Divina. Ao rezar este salmo, o Povo de Deus agradecia a Javé a revelação do seu amor dando os preceitos da Aliança. Proclamava felizes os que guardavam o testemunho e procuravam de coração cumprir a vontade Deus. Nesses preceitos o caminho da felicidade e da paz.
Maravilhosa a poesia e a mística que emanam dos versos deste salmo. “São cânticos para mim vossos Estatutos, na terra em que sou peregrino. Recordo vosso nome durante a noite, Javé, e observo vossas leis”(Vs. 53 e 54). Era sentir a presença do Altíssimo que reconduzira o povo da escravidão do Egito, dera-lhe a Lei e cujo nome é santo e que permanecia no meio dele e, mesmo traído, reconduzia-o pela voz dos profetas.
“Desfalece a minha alma à espera de vossa salvação, mas confio em vossa palavra. Como são doce ao paladar vossas promessas, mais que o mel para minha boca. Lâmpada para meus passos é a vossa palavra e luz em meu caminho” (Vs. 81,103 e 195). A Lei do Senhor nutria a esperança do coração, mais suave e deliciosa que todos os manjares. Assim rezavam os justos da Aliança do Sinai, não porque se julgassem justificados pela Lei, mas na esperança da libertação prometida.
O Povo de Deus vivia ainda sob o jugo da Lei que mostrava o pecado. Ainda não se cumprira o tempo em que no horizonte iria surgir o Sol da Justiça e para aquele povo que vivia na escuridão brilhasse a Luz. A Lei vinha indicar o caminho a trilhar enquanto esperava-se este Dia. Mas essa Revelação já era motivo de grande alegria: “Dirigi-me na senda de vossos mandamentos porque nela está minha alegria” (V. 35).
Se assim o era, que diremos nós, agora que a Revelação se completou e, no Sermão da Montanha, que meditamos neste domingo, o Mestre nos dá a Nova Lei, a realidade de redimidos que se manifesta, não pelas proibições, mas pela grandeza do amor e pelo Espírito que nos torna bem-aventurados. “Ouvistes o que foi dito aos antigos...” mas vós deveis superar a justiça da lei. Sede perfeitos como vosso Pai Celeste é perfeito”(Cf. Mt.5, 17 a 48).
A Nova Lei não veio revogar a Antiga e o Profetas, mas cumpri-la. Enquanto aquela impunha a obediência à não transgressão, esta descortina a grandeza da nova criatura , restabelecida à imagem do novo Adão, do Filho de Deus.
Paulo, na sua Carta aos Romanos, no ensina que a Lei nos dá a conhecer o pecado e por ela nos reconhecermos culpados diante de Deus. Mas, com a manifestação da Justiça de Deus, testemunhada pela Lei e pelos Profetas, somos justificados pela graça de Cristo (Cf. Rom. 3,19).
Ouvindo a pregação de Jesus proclamando felizes e bem-aventurados os que ultrapassam a letra da lei e, pela graça, superam as raízes do pecado e e se libertam de suas amarras, qual deve ser a nossa alegria!
O que a Lei e os Profetas anunciaram, torna-se realidade no novo Reino, um Reino humilde e pobre, de que fala Sofonias,(Cf. Sof.3,12), porque sua esperança não está nas riquezas e no poder, mas no nome de Javé. São os pobres de espírito, os puros de coração, os pacíficos, que possuirão a terra (Cf. Mt. 5)
O salmo 119 (118) assume, em nosso coração, a dimensão do texto Paulino da gratidão porque sabemos que somos pecadores pela Lei mas, pela graça, libertos pela fé, por meio de quem se fez vítima propiciatória por nosso amor, derramando seu sangue sobre a Cruz.
Na nova Ordem, ao cantarmos as maravilhas da Lei, “filhos de Deus, todos o que nos deixamos conduzir pelo Espírito de Deus” (Cf. Rom.8,14) concluímos a ação de graças do salmo pela Revelação da Lei do Amor entoando um hino à misericórdia divina, “abismo de riqueza, sabedoria e ciência de Deus. Pois tudo é dele, por Ele e para Ele. A Ele seja dada a glória para sempre. Amem (Cf. Rom. 11, 33-36).
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