Vem, Senhor Jesus. |
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG. |
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Com esta súplica conclui-se o Livro da Revelação da bondade de Deus para com a Humanidade e com todas as suas criaturas. É o anseio que brota do coração de todos os crentes, a plena realização de tudo Naquele que despojou-se de sua glória para nos elevar à dignidade de filhos de Deus.(Cf. Fil.2, 5-11)
O mistério da Encarnação nos revela o plano divino de resgatar suas criaturas do poder do pecado. O Verbo de Deus em que tudo subsiste, pois “tudo foi feito por Ele e nada do que foi feito foi feito sem Ele. Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens”(Cf. Jo.1,3-4).Mas as trevas a que se submeteu o homem encobriam esta Luz. A opacidade obscurecia a inteligência e a raiz do mal impunha sua força à vontade do homem e revoltava o mundo criado.
A criatura arrastava-se na escuridão da morte, tendo apenas tênue esperança de que por meio de uma Virgem, que, isenta, pela misericórdia divina da mancha do mal, daria o “sim” ao Criador, para que Ele, por seu Filho, assumisse a condição humana e nos desse a todos a condição de retornar à Vida. De formas variadas estava na memora da humanidade a sentença do Criador: “Porei inimizade entre ti e a mulher; entre tua descendência e a descendência dela; esta te esmagará a cabeça “ (Cf. Gn. 3, 15)
Teilhard de Chardin, em linguagem moderna, tem um texto belíssimo sobre isto. “Essencialmente, a influência vital, organizadora, do Universo é a graça.” ( Mon Universe) Esta graça que nos foi dada pelo Filho de Maria, Jesus, a todos os que para Ele abrem seu coração.
E, até mesmo contrariando a teologia tradicional, que a tenta explicar a ação da graça em nossa natureza ao colocá-la na categoria de “acidente, ao lado da sonoridade , das cores, ou das boas qualidades da alma”, como que “tiranizada” pelos conceitos filosóficos, conclui “nós diremos que a graça não é em nós menos íntima, menos substancial que a nossa Humanidade”.
Retornamos à nossa Humanidade resgatada, quando também nós dizemos como a Virgem Maria o nosso “sim”, para que Cristo seja tudo em nós: “omnia in omnibus Christus”, como nos ensina São Paulo.
Celebramos a festa do Natal. Com as luzes que brilham em toda a parte e com o coração em festa, na sensibilidade de nossa alma, fazemos presente o gesto divino que fez seu Filho nascer numa mangedoura, “porque não havia lugar para eles na estalagem” (Luc. 2,7).
Foi em meio rude, junto à natureza, longe dos palácios das criações humanas e na maioria das vezes fruto do pecado, na periferia, e rejeitados seus pais quando buscavam abrigo, que Jesus quis nascer.
Ele que era a dinâmica de todo o criado, quis, na sua primeira manifestação ao mundo, voltar às origens, rejeitando a glória aparente, como mais tarde, nas tentações a afastou, afirmando a primazia do divino.
A simplicidade de toda a cena descrita pelo Evangelista Lucas, os pastores que acorreram ao anúncio do Anjo e encontraram o Menino com Maria e José, nos devem levar à alegria que contagiou todo aquele povo simples: “e todos os que os ouviam, se admiravam das coisas que lhes diziam os pastores (Cf. Luc. 2,18)
A mesma simplicidade e abertura de coração nos descreve S. Mateus na adoração dos Magos que, pela aspiração à fé, já viviam a pureza das Bem-aventuranças. Seguiam a estrela, seguiram a voz da profecia quando, até por maldade, lhes foi anunciada e ouviram serenos a voz do Espírito que lhes indicava outro caminho para o retorno à sua terra, o caminho da graça que viram realizada naquele Menino.
Diante do presépio, na nossa família, celebremos o Natal como um povo redimido dando graças a Deus que fez brilhar nas nossas mentes a Luz da sua claridade. E, reconhecendo por esta Luz, com os olhos da carne, o mistério do Verbo encarnado, imploremos ser conduzidos à realidade celeste ao Cristo, Senhor do Universo. Vem, Senhor Jesus.
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