Ascenção e Pentecostes |
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG. |
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Naquele colóquio de tamanha interação
do amor de Jesus e seus apóstolos narrado por João,
que tinha reclinada a sua cabeça sobre o peito do Senhor,
Jesus lhes disse: “Para vós é melhor
que eu vá, porque seu eu não for, não virá
para vós o Paráclito. Mas se eu for, eu vô-lo
enviarei” (Cf. Jo. 16, 7).
Nesta semana celebramos a realização das palavras
de Cristo, as festas litúrgicas da Ascensão de
Jesus e a efusão do Espírito Santo sobre os apóstolos.
São Gregório, Papa, tem uma expressão maravilhosa
sobre estes mistérios que comemoramos, comentando o texto
do profeta Habacuc: “O sol se elevou e a lua manteve-se
em sua órbita”, assim expõe: “O Sol
é o Senhor Jesus, a lua, a sua Igreja. Até que
o Senhor subisse aos céus, a Igreja estava temerosa diante
das forças adversas do mundo. Mas, depois da ascensão,
fortificada , aberta e corajosamente pregou o que antes ocultamente
acreditava”.
Como prometera, o Senhor enviou o seu Espírito Santo,
que na sua força convenceu o mundo do pecado, porque
não creu no Filho de Deus, da Justiça, porque
afirmamos nossa fé de que o Crucificado foi exaltado
e está junto do Pai e do Juízo, porque a maldade
não tem mais vez. Pela morte e ressurreição
de Cristo, perdeu o mundo o seu império e já está
julgado e condenado (Cf. Jo. 16, 8-11)
O Espírito Santo, ensina-nos Santo Afonso, é o
amor de Deus em nós derramado, em todos nós que
acreditamos no mistério de Cristo. Sua luz nos ilumina,
abrasando nosso corações no fogo de sua caridade.
Nele se realizam as palavras de Jesus à Samaritana, é
a água viva que, brotando de seu Coração
trespassado pela lança, jorra em torrentes de vida e
santidade, que nos impulsiona e conforta.
Naquele colóquio, tão íntimo, de coração
a coração, onde já podiam os discípulos
sentirem-se no seio da Santíssima Trindade, Filipe pede
ao Mestre: “Mostra-nos o Pai e isto nos basta”. A resposta é de ternura suprema: “Filipe,
aquele que me vê, vê também o Pai”.
Não precisamos ter medo. Não se perturbe o nosso
coração, pois o Espírito que nos foi dado
é um vinculo que nos une a Deus. Ele nos fortalece no
testemunho que temos de dar de nossa fé. E nele podemos
confiantes, clamar “Pai.”
Hoje, como ontem, os discípulos de Cristo são
perseguidos e ameaçados. Sua Igreja é zombada
e desprezada. “Se o mundo vos odeia, sabei que
primeiro odiou a mim...Se me perseguiram também vos hão
de perseguir” (Cf. Jo. 15,18)
No tempo passado e mesmo agora, há perseguições
violentas, mas hoje, as forças do Mal são sutís.
Procuram destruir a nossa fé sorrateiramente.
Insinuam a mentira na literatura. Com formas belíssimas
das criaturas de Deus induzem-nos ao edoninismo e na riqueza
desgovernada de alguns, procuram nos jogar a todos no culto
aos baals modernos onde nosso fim último é o poder
e o domínio através do ouro e de suas formas.
Mais grave do que querer o nosso sangue, como desejavam com
ele embebedar-se os imperadores romanos e os déspostas,
querem nos envenenar com seus princípios.
Ao subir aos céus Jesus nos prometeu estar conosco até
o fim dos tempos. Seu Espírito está em nós
e na Igreja. Por isso, vinte séculos não a conseguiram
destruir e a “profecia de Voltaire” tornou-se poeira.
Santo Agostinho nos concita a subirmos com o coração
e a mente aos céus junto com Cristo, pois aí encontraremos
o repouso até o dia em que O seguiremos corporalmente,
quando Ele voltar na sua glória. Com Cristo não
subiram os vícios da carne, assim, se quisermos ir após
Ele, devemos sepultar os nossos pecados. Desprendermo-nos dos
seus laços para podermos rezar com o salmista: “Rompestes,
Senhor, minhas cadeias e minhas algemas, eis porque Vos ofereço
um sacrifício de louvor".
Nas alegrias destas festas, vamos implorar que o Espírito
Santo não nos abandone, que não nos deixe perder
a riqueza do mistério que é Deus em nós,
Deus na Igreja.
A força que vence o mundo é a nossa fé.
Sabemos que o Cristo Ressuscitado não morre mais. A morte
não o atinge, como também não atinge aos
que nele crêem.
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