Mês de maio - Mês de Maria. |
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG. |
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“Neste mês de Maria,
Tão lindo mês de flores,
Queremos de Maria
Celebrar os louvores”
Assim cantavam as crianças, na sua pureza quase angelical,
nas noites frias de maio, coroando a imagem da Virgem Maria,
como a coroou seu Filho na unidade da Trindade Santíssima.
Os tempos e os costumes mudaram e, com eles, também nós,
a nossa cultura, a nossa sociedade e já não ouvimos,
senão talvez no interior e nas pequenas comunidades,
ressoar aquela melodia, aquelas vozes e a coreografia que lembravam
a corte celeste com seus anjos louvando e reverenciando a Mãe
de Deus.
De uma sociedade quase estática em que vivíamos
até a metade do século passado, passamos por crescimento
populacional vertiginoso, um desenvolvimento científico
e tecnológico que somos praticamente incapazes de acompanhar
e, sobretudo, de analisar e colocar sob a égide do humano.
A filosofia e a teologia se confundem no julgamento do que surge
e que penetra profundamente em nossas vidas. Inquietos, questionadores
e independentes buscamos, nesta evolução natural
da nossa condição humana, embora cheia de acidentes,
encontrar o rumo dos valores humanos e eternos.
Para nós, cristãos, esta busca passa pelas mãos
de Maria, como é certo que, no mistério da redenção,
quando o Pai Celeste quis dela o assentimento, o “sim”,
pelo qual se tornou Co-Redentora –“Eis a serva do
Senhor. Faça-se em mim a tua vontade”, antecipando,
em segundos,no tempo, o Filho que ao entrar no mundo disse:
“eis que venho, ó Deus, para fazer a tua vontade.”
Em toda a história da Igreja, Maria se faz presente.
Presença delicada, silenciosa, como nas Bodas de Caná
da Galiléia –“Meu Filho, eles não
têm vinho” - como no segredo da encarnação
do Verbo, como junto à cruz.
Na Grécia, como em Roma, quando a Igreja, saída
das perseguições pagãs, teve de enfrentar
novo perigo, o das heresias na formulação da fé,
no Concílio de Éfeso, São Cirilo de Alexandria,
após a definição dogmática, pôde
saúda-la e invocar: “Santa Maria, Mãe de
Deus, rogai por nós!”
Nas ruas de Roma, invadida pelos bárbaros, nas esquinas,
onde ainda se podem ver as imagens de Nossa Senhora, o povo
a invocava, a ”Salvação do Povo Romano”,
rezando como ainda o fazemos: “Sob vossa proteção
nos refugiamos, Santa Mãe de Deus, não desprezeis
nossas súplicas em nossa necessidades, mas livrai-nos
de todos os perigos, o Virgem gloriosa e bendita.”
Na Idade Média, as catedrais góticas atestam a
devoção a Maria e a gratidão do povo nas
calamidades daquele tempo, enquanto Domingos de Gusmão
empunhava o rosário contra a heresia dos albigenses e
Simão Stoc colocava o escapulário do Carmo, presente
de Nossa Senhora para aqueles que recorrem à sua proteção,
inclusive para passarem do purgatório para o céu,
como vemos representado em nossa Catedral Metropolitana de Juiz
de Fora, na lateral do seu altar.
Nos dias de hoje, em Lourdes e em Fátima, mensageira
do Evangelho eterno, nos lembra que saímos de Deus e
a ele devemos voltar pelo batismo e, por uma vida santa, aguardar
o seu advento glorioso. O simbolismo de cavar a terra e dela
surgir a água, em Lourdes, faz-nos meditar sobre a criação
e as águas que nos renovam na graça, enquanto
em Fátima, na aridez da paisagem e no milagre do sol,
nos relembra o fim último com a glória do Cordeiro.
Maria está presente em nosso tempo. Talvez não
tanto mais na simplicidade dos anjinhos do mês de maio
que evocamos, mas sobretudo na certeza de que nos dá
da sua assistência neste vale de lágrimas, às
vezes semeado de alguma alegria. A Ela invocamos, a seus santuários
acorrem multidões nas suas necessidades e lá depositam
os ex-votos de gratidão.
Um devoto de Maria não se perde, ensina Santo Afonso
e Bernardo de Claraval nos orienta para, em todas os momentos,
de alegria e de angústia, de dificuldade e incerteza,
olharmos a Estrela, chamar por Maria – Respice Stellam.
Voca Mariam. Ela está diante de seu Filho a interceder
por nós, para que sejamos dignos de herdar as suas promessas,
de vermos a Deus face a face, no resplendor do seu Unigênito
e no amor eterno do seu Espírito.
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