Dia do trabalho. |
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG. |
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Estamos às vésperas do
Dia do Trabalho. Poderíamos iniciar uma reflexão
sobre esse tema a partir de um pedido feito pelo apóstolo
Paulo a seu amigo Filemon, ao lhe enviar, de volta, seu antigo
escravo, Onésimo, “ a fim de que o recuperasse
para sempre, não mais como escravo, mas bem melhor do
que como escravo, como um irmão amado” (Cf. Fil. 15-16).
É de todos conhecida a história das relações
do trabalho através dos tempos, desde a escravidão
até nossos dias, ou, inversamente, desde nossos dias
até a escravidão, onde só por momentos
há lampejos de respeito à liberdade do trabalho.
Há sempre uma forma de escravidão, desde a escravidão
física até aquela onde se esmaga a dignidade do
homem a pretexto do respeito à sua condição
de homem livre.
A supremacia do capital sobre o homem, no neo-liberalismo, mais
sutil e perspicaz do que no capitalismo, escraviza o próprio
detentor do capital que perde o sentido da vida diante do brilho
do ouro, limitando o seu horizonte. “Insensato,
nesta mesma noite ser-te-á reclamada a alma. E as coisas
acumuladas de quem serão?”( Cf. Lucas
12, 20).
Pior ainda no relacionamento com aquele que nada mais tem do
que a força dos seus braços, a presteza de sua
habilidade ou a disponibilidade de sua inteligência. É
custo, pode ser substituído pela máquina e pelo
robô que, uma vez comprado, dispensa salário e
tratamento. Sua manutenção é barata, não
faz greve, não reivindica. Trabalha sem limitação
de hora, De domingo a domingo. Não pede respeito pelo
dia do Senhor. Se fica velho, joga-se fora. Não precisa
de previdência social.
Todos nós sabemos como é difícil vermos
obedecida a legislação social que, a custo foi
implantada com o suor e sangue dos trabalhadores, como o do
acontecimento deste Primeiro de Maio que sagrou o dia em quase
todos os países do mundo.
Para esta luta até mesmo a Igreja institucional custou
acordar, ela também sujeita à cultura de cada
época, apesar de vozes santas que, em todo tempo, clamaram
pela Justiça. Mas, uma vez alertada pelo grito dos seus
filhos, colocou-se na vanguarda. Pio IX, Leão XIII, Pio
XI e os demais Pontífices até hoje fustigaram
e condenaram os erros e pecados do capitalismo e do comunismo,
criando a doutrina social da Igreja, fundamentada na justiça
e na caridade.
Não é tarefa de pequena monta equacionar todas
as exigências da condição humana em relação
ao desenvolvimento e a criação de riquezas necessárias
à humanidade. À luz do Evangelho, o cristão
tem de meter-se à obra. Não pode permitir que
princípios deletérios prejudiquem à harmonia
dos meios de que se dispõem para se cumprir a ordem do
Criador a nossos primeiros pais: “multiplicai-vos
, enchei a terra e submetei-a” (Cf. Gênesis
1,28). A missão do leigo cristão em sua atividade
temporal, que é seu campo específico de ação,
como insiste o Concílio Vaticano II, é essencialmente
esta, implantar a justiça e o “desenvolvimento
que é o novo nome da paz”. Paulo VI
Voltando ao texto paulino que evocamos, o fundamento de tudo
é reconhecermo-nos como irmãos que vamos compartilhar
das riquezas que Deus dispôs para todos nós
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