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A vocação da filosofia
Por: Pe. Elílio de Faria Matos Júnior
Vigário Paroquial da Paróquia Bom Pastor
Juiz de Fora, MG
 
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A filosofia já conta com mais de 2500 anos de história. Essa longa trajetória é já uma insígnia de que se orgulhar. E, apesar de tão longa existência, são muitos os que ainda se perguntam sobre o sentido e o valor da filosofia.

Na verdade, não é nada fácil definir a filosofia. Em geral, cada escola ou corrente filosófica trata de dar a sua definição, de acordo com a visão que tem de seu alcance. Hoje em dia, infelizmente, não são poucos os que acham que a hora da filosofia já passou, e que as diversas ciências tomaram o seu lugar. Nesse sentido, a filosofia seria um saber por demais especulativo, uma construção mental apenas, alicerçada não raro no vazio; um saber deficiente, cuja imprecisão viriam as ciências a corrigir com sua metodologia caracterizada pelo controle da verificação empírica.

Entretanto, cabe-nos perguntar: O domínio do que se pode saber reduz-se apenas ao que se pode constatar empiricamente? O homem estaria condenado a lidar apenas com os fenômenos, sem poder lançar o olhar para cima, para o que não se vê com os olhos da carne?

Platão (427-347 a.C.), um dos maiores filosófos da Antiguidade e de todos os tempos, não cessava de defender a dimensão metafísica da filosofia. Para Platão, assim como para muitos depois dele, a vocação da filosofia é fazer o homem alçar vôo em busca de um conhecimento mais profundo, um saber que se alcança com os olhos do espírito, e que, por atingir o Princípio de todas as coisas, ilumina de modo novo e enche de sentido os fenômenos com os quais lidamos.

O homem contemporâneo está profundamente marcado pela cultura da ciência e de sua aplicação prática, que é a técnica. Fala-se mesmo de tecnocracia, ou seja, de imperialismo da técnica. Em muitos casos, o homem torna-se escravo de sua própria invenção. Certamente a ciência e a técnica muito têm contribuído para o desenvolvimento humano, e disso todos somos testemunhas. Por outro lado, porém, sabemos que, com as novas tecnologias, as possibilidades para o mal aumentaram assustadoramente. Na verdade, o progresso técnico-científico é ambíguo, pois, visto sob certo ângulo, pode ser o progresso da funda à superbomba como bem o notou Theodor Adorno. Para que seja legítimas e humanitárias, as novas descobertas e possibilidades abertas pela ciência devem-se deixar guiar por uma outra luz, que não pode vir das próprias ciências. Devem-se deixar guiar pelo bem, que não é do domínio do que é (dos fatos), mas do que deve ser (ética).

Aqui, a meu ver, entra o papel insubstituível da filosofia. Ela, sim, é capaz de fazer com que o homem veja para além dos fenômenos e seja capaz de alcançar o sentido básico da existência. Nesse sentido dizia o Papa João Paulo II em 1998: "Em toda a parte em que o homem descobre um apelo ao absoluto e ao transcendente, lá se abre um fresta para a dimensão metafísica do real: na verdade, na beleza, nos valores morais, na pessoa do outro, no ser, em Deus. Um grande desafio, que nos espera no final deste milênio, é saber realizar a passagem, tão necessária como urgente, do fenômeno ao fundamento" (Encíclica Fides et Ratio, n. 83). 

Existem verdades perenemente válidas - a dignidade ímpar de cada ser humano;  o fato da liberdade humana, que precisa exercer-se com responsabilidade; a existência do Ser Absoluto, que é Inteligência e Amor, e que está à frente do Universo como Criador e Senhor; o Bem como regra e, ao mesmo tempo, meta de toda nossa ação moral, etc. - de que a filosofia pode e deve tratar. Tudo isso é capaz de conferir sentido à nossa vida e encher de alegria nossa alma. A cultura atual, com efeito, necessita urgentemente de um suplemento de espírito.



 
 
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