A esperança maior |
Por: Pe. Elílio de Faria Matos Júnior
Vigário Paroquial da Paróquia Bom Pastor
Juiz de Fora, MG |
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No último dia 30 de novembro, o papa Bento XVI publicou a 2ª carta encíclica de seu pontificado. O título, como de costume, é tirado das primeiras palavras do texto, que no caso é uma citação de Rm 8,24: «Spe salvi» (salvos pela esperança). O tema é a esperança cristã.
O documento papal, apesar de estar encerrado em menos de 80 páginas, é uma verdadeira obra teológica. As citações vão desde o Novo Testamento, passando por Santo Agostinho, muito admirado pelo pontífice, até autores que representam o pensamento moderno e contemporâneo, como Francis Bacon, Immanuel Kant, Karl Marx e Adorno.
O papa faz questão de deixar claro qual é o fundamento do Cristianismo: o encontro com o Deus verdadeiro proporcionado por Cristo. E explica que só esse encontro pode dar ao homem a verdadeira esperança, uma esperança muito maior do que as esperanças simplesmente humanas: a de possuir em plenitude a vida feliz, a «beata vita», que está para além das flutuações da vida temporal. O homem, segundo a encíclica, precisa de um «Amor» incondicionado, eterno, que é Deus mesmo. Este «Amor» leva-o a enfrentar as dificuldades da vida, dando-lhe a esperança fidedigna de que Deus o aguarda para o abraço definitivo, que significará a sua integral libertação. Desse modo, quem não conhece a Deus, ainda que tenha muitas esperanças, anda sem esperança no mundo.
Bento XVI faz uma contundente crítica à modernidade na medida em que ela pretendeu construir um paraíso na terra, um reino do homem em que Deus ficaria entre parênteses. A modernidade apostou demais no homem e pretendeu elevar a sua razão a árbitro supremo, esquecendo-se de que o homem permanece homem, isto é, capaz tanto do bem como também do mal. Uma vez que a liberdade humana é liberdade inclusive para o mal, os ordenamentos políticos e científicos precisam da ética, que tem seu fundamento último em Deus, que é o Bem. O reto ordenamento das coisas deste mundo é uma tarefa jamais concluída, devendo ser retomada por cada geração. O erro de Marx foi seu materialismo: pensou que estabelecer estruturas justas faria justo o homem, como se este fosse simplesmente resultado das condições econômicas. Não se pode curar o homem apenas do exterior, afirma o pontífice.
O objeto, pois, de nossa esperança cristã não é o paraíso terrestre, que jamais existirá. Não é a política ou a ciência que, em última análise, redime o homem. O homem é redimido pelo «Amor», e nossa esperança é a de que um dia sejamos elevados à plena intimidade com Deus, em cujo conhecimento amoroso está a vida feliz, que nós chamamos de vida eterna.
Ao fazer tais afirmações, Bento XVI faz questão de realçar que a mensagem do Cristianismo não é alienada, pois não deixa o mundo tal qual o encontra. O fato mesmo de a esperança cristã alojar-se em nosso coração traz algo da eternidade de Deus para dentro do nosso tempo, transformando, assim, a vida e o mundo a partir de dentro. Essa esperança dá-nos a força necessária para enfrentar as dificuldades da vida presente e transformar o mundo segundo as exigências da Verdade, do Bem e do Amor. Assim, experimentamos algo do Paraíso celeste já aqui, mas temos consciência de que sua definitiva realização dar-se-á na eternidade, em que nos uniremos de modo mais íntimo a Deus.
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