Nesta Vigília de Pentecostes, somos motivados a acolher o grande dom do Espírito. Ele, que vem em socorro de nossa fraqueza e reúne o que está disperso, acenda em nós o amor e a alegria de sermos a assembleia amada de Deus.
A Palavra de Deus gera e renova em nós os frutos do Espírito, para superar as divisões e saciar nossa sede de vida e dignidade.
“Quando chegou o dia de Pentecostes, estavam todos juntos num mesmo lugar. E sobreveio de repente um ruído do céu, como de um vento impetuoso, que encheu toda a casa em que se encontravam. O Espírito Santo manifestou-se por meio dos elementos que costumavam acompanhar a presença de Deus no Antigo Testamento: o vento e o fogo – Voltamos a encontrar os elementos do vento e do fogo no Pentecostes do Novo Testamento, mas sem ressonâncias de medo. Em particular, o fogo adquire a forma de línguas que se pousam sobre cada um dos discípulos, que “ficaram todos cheios de Espírito Santo” e, em virtude de tal efusão, “começaram a falar outras línguas” (At 2, 4). (SS Bento XVI, Hom. Pentecostes, 11-V-2008).
A Primeira Leitura – Gn 11,1-9 – mostra que o desejo de chegar ao céu contrasta com a decisão de Deus de descer ao solo humano. Quando o orgulho e a arrogância intentam dispensar Deus do cotidiano da vida, a confusão toma conta da sociedade. O que impede a comunicação e o entendimento entre as pessoas não é a diversidade de línguas e culturas, mas a arrogância, que transforma a diversidade em discriminação e barreiras.
Caros irmãos,
A Segunda Leitura – Ex 19,3-8.16-20b – ensina que com o passar do tempo foi acrescentada a esta dimensão agrícola um significado histórico: a festa da semana, ou de Pentecostes, celebrava o dom da aliança que Deus fizera com seu povo no monte Sinai (Ex 19,3-8.16-20). Se lemos a narrativa da aliança em Ex 19 vamos perceber que o autor descreve este acontecimento como uma manifestação divina (teofania), algo grandioso que hora é descrita como uma tempestade (Ex 19,16), hora como uma erupção vulcânica (Ex 19,18). Deus se manifesta para fazer daquelas pessoas o seu povo: “Se ouvirdes a minha voz e guardardes a minha Aliança, sereis para mim a porção escolhida dentre todos os povos (…) E vós sereis para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa”(Ex 19, 5-6). No monte Sinai, Deus escolhera aquele povo como Seu, para ser instrumento para todos os outros, instrumento de conversão e salvação. E concedera a ele o dom da Lei (Ex 20).
Prezados irmãos,
A Terceira Leitura – Ex 37,1-14 – apresenta uma das belas mensagens dessa passagem é a esperança, baseada no poder de Deus. Imagine se Deus enviasse o profeta ao meio de pessoas doentes, Ezequiel talvez pudesse sugerir tratamentos para elas. Porém, Deus o coloca diante de mortos, e não apenas isso, mortos há muito tempo, com seus ossos já totalmente secos. É um quadro que mostra o fim dos recursos naturais e humanos. Aparentemente, é o fim de tudo. Mas os recursos divinos ainda não se esgotaram. Quando tudo parece perdido, Deus ainda tem solução. Veja o caso de Lázaro (João 11). Jesus chegou quatro dias depois do seu sepultamento. Parecia tarde demais, mas para Deus não era e ele foi ressuscitado. Aquele vale cheio de ossos desarticulados e misturados mostra a desorganização de uma vida sem Deus. Vida? É mais apropriado dizer uma morte em vida. Desorganização nos sentimentos, nos negócios, nos objetivos, na família, etc. Muitas pessoas hoje são verdadeiros mortos-vivos. Já sepultaram seus sonhos e seus ideais. Deus disse ao profeta: ‘Filho do homem, profetiza aos ossos: ossos secos, ouvi a palavra do Senhor…’ A Palavra de Deus é o remédio para o problema do homem. É através da palavra de Deus, a Bíblia, pregada e ensinada, que os mortos espirituais viverão. A Palavra de Deus é viva (Hebreus 4,12) e comunica vida. Aqueles que receberem de bom grado essa Palavra, serão por ela transformados e vivificados. Cada osso vai encontrando seu lugar no corpo. Isso pode ser usado de forma aplicada para dizer que cada pessoa vai encontrando sua posição no Corpo de Cristo, que é a Igreja. Vai encontrando sua razão de viver, sua missão, seu objetivo de vida, sua função. O texto destaca ainda a importância da ação do Espírito de Deus sobre nós. De nada adianta tudo estar no seu lugar, se não houver a ação do Espírito Santo, se não houver unção, se não houver poder. Seria como um motor de um carro que estivesse bem montado, mas sem o lubrificante e o combustível necessários ao seu perfeito funcionamento. Assim, nossas vidas, nossas comunidades, nossos ministérios não devem ser apenas bem estruturados. Isso é bom, mas não é suficiente. Não podemos funcionar sem o poder do Espírito Santo, sem a unção dos céus. Uma vez que estamos vivificados pela Palavra, e ungidos pelo Espírito Santo, tornamo-nos um exército. Deus não ressuscitou aqueles mortos para que cada um fosse cuidar de seus próprios interesses. Deus os ressuscitou para que se tornassem um exército para lutar na causa do Senhor. Aqueles que são vivificados pelo Senhor, serão usados para alcançar outros. Isso não quer dizer que deixaremos de cumprir com os nossos deveres. Vamos trabalhar, estudar, etc. Mas, nada disso ocupará o lugar de Deus em nossas vidas. Nada disso poderá impedir que façamos nosso trabalho na obra de Deus. Ele nos ressuscitou (Ef. 2,4-6). Logo, nossa vida pertence a ele e vamos viver para a sua glória. Senhor Jesus, eu te louvo e te agradeço, pois toda glória pertence a ti. E te peço Senhor para que Tu olhes para nós, derrame o teu Espírito Santo, o teu poder, o fogo do teu amor. Suscite em nós a tua graça, tira-nos desse vale de ossos secos e sem vida e batiza-nos Senhor com teu Espírito. Deixa-nos experimentar o teu amor: um amor que restaura em nós à vontade de viver e de pertencer a Ti.
Caros irmãos,
A Quarta Leitura – Jl 3,1-5 – ensina que: “Depois disso, acontecerá que derramarei o meu Espírito sobre todo ser vivo: vossos filhos e vossas filhas profetizarão; vossos anciãos terão sonhos, e vossos jovens terão visões. Naqueles dias, derramarei também o meu espírito sobre os escravos e as escravas” (Jl 3,1-2). Tudo isso está acontecendo! É um derramamento do Espírito Santo com prodígios, com sinais, com milagres. É um derramamento com abundância de prodígios: “Vossos filhos e vossas filhas profetizarão; vossos anciãos terão sonhos, e vossos jovens terão visões”. São os nossos filhos e filhas, nossos pais e avós, são os que vivem conosco. A profecia de Joel mostra também sangue, fogo e colunas de fumaça: “O sol converter-se-á em trevas e a lua, em sangue, ao se aproximar o grandioso e temível dia do Senhor. Mas todo o que invocar o nome do Senhor será salvo, porque, sobre o monte Sião e em Jerusalém, haverá UM RESTO, como o Senhor disse, e entre OS SOBREVIVENTES estarão os que o Senhor tiver chamado” (cf. Jl 3,4-5). O Senhor está reunindo os sobreviventes, aqueles que Ele escolheu e reservou para si. É o tempo da (Jl 3,5). Todas estas maravilhosas promessas do derramamento do Espírito Santo estão ligadas à vinda do Senhor. Está claro: o Senhor promete derramar o Seu Espírito antes da Sua vinda e por causa da Sua vinda! Por que o Senhor derrama o Seu Espírito? Porque a Sua vinda está próxima! E por que Ele quer que usemos os dons do Seu Espírito? Para trazer de volta todos os Seus filhos.
Prezados irmãos,
A Quinta Leitura ou Epístola – Rm 8,22-27 – mostra que toda obra criada geme e sofre enquanto não houver libertação de tudo aquilo que impede viver em plenitude. A natureza e a humanidade, cada vez mais, gemem e sofrem diante da degradação a que são submetidas pelo capricho de gananciosos. Com a degradação da natureza, é o próprio ser humano que sofre.
Uma vez mais, Jesus sobe a Jerusalém, sempre acompanhado por uma multidão de pessoas, pois sua fama já se espalhara por toda a parte. Sua pessoa perturbava os judeus e os gregos pelo fato de Ele perdoar os pecadores, como só Deus é capaz de perdoar, provocando as mais diversas reações. Eles se sentem confusos, ao ouvi-lo dizer que “o filho do homem não veio à terra para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em ‘resgate’ de muitos”. Assim como outrora Deus salvou o seu povo, agora o Senhor resgata os seus seguidores, conduzindo-os para o “novo céu e a nova terra”. Jesus não está à procura de servos, mas sim de irmãos que o sigam com um amor desinteressado e dadivoso.
Caros irmãos,
No Evangelho – Jo 7,37-39 – Jesus se apresenta como a fonte de onde jorra a água que sacia as necessidades mais profundas do ser humano, sedento de dignidade. Em Jesus está presente a vida em plenitude, a qual é oferecida a todos os que a desejarem. Convidando a beber, o Mestre propõe-se a aplacar a sede de quem a sente. O satisfeito, o acomodado e o orgulhoso não se aproximam dele, porque se consideram saciados. Jesus diz hoje a mim e a você: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba” (João 7, 37). Jesus é aquele que sacia a nossa sede. E de que forma o Senhor a sacia? Ele nos faz ficar inebriados nas fontes de água viva, a qual jorra para a eternidade. Jesus nos mergulha no Seu Espírito, Jesus nos deixa inebriados com Seu Santo Espírito e nos faz plenos e repletos d’Ele [Espírito Santo]. E como nós precisamos deste Espírito, precisamos d’Ele para continuar vencendo, para continuar lutando, para continuarmos em pé no seguimento de Jesus Cristo e não desanimarmos!
E uma vez que esse mesmo Espírito é derramado sobre nós, uma vez que nós nos encharcamos desse mesmo Espírito, rios de água viva jorram do nosso interior. E desses rios de água, que jorram de nós, brotam os frutos do Espírito que habitam em nós. O rio que jorra para todos os lados, esparrama água, esparrama o frescor e o vigor que vem dessa água pura, límpida que renova e faz novas todas as coisas!
Aquele que é cheio do Espírito está derramando o Seu Espírito, está jorrando para quem está do Seu lado e os frutos d’Ele: a alegria, a paz, o amor, a bondade, a generosidade, a afabilidade, a caridade, a temperança e tudo aquilo que nós conhecemos da vida nova que o Espírito faz brotar em nós.
Jesus se refere à água viva, ou seja, à água da vida eterna, profetizada por Zacarias, que descreve a vinda do Messias como águas vivificantes saindo de Jerusalém: “Naquele dia, águas vivas sairão de Jerusalém”. Jesus é o novo Moisés, que proporciona vida “em abundância”, pois dele correrão rios de água viva, que são os dons messiânicos, comunicados por Ele na doação de sua vida e na manifestação do seu amor, para todos os tempos. O modo de beber desta água é crer nele, pois “quem crê em mim, diz o Senhor, de seu seio jorrarão rios de água viva”. “Ele falava do Espírito que deviam receber os que nele cressem”, sinal da era messiânica, que seria reconhecida pela superabundância da comunicação do Espírito, segundo a profecia de Joel, citada por S. Pedro ao explicar o Dom de Pentecostes.
Pentecostes é a coroação da Páscoa de Cristo. Nele, acontece a plenificação da Páscoa, pois a vinda do Espírito sobre os discípulos manifesta a riqueza da vida nova do Ressuscitado no coração, na vida e na missão dos discípulos. Ressalta-se a importância de Pentecostes nas palavras do Patriarca Atenágoras (1948-1972): “Sem o Espírito Santo, Deus está distante, o Cristo permanece no passado, o evangelho uma letra morta, a Igreja uma simples organização, a autoridade um poder, a missão uma propaganda, o culto um arcaísmo, e a ação moral uma ação de escravos”. O Espírito traz presente o Ressuscitado à sua Igreja e lhe garante a vida e a eficácia da missão.
Dada sua importância, a celebração do Domingo de Pentecostes inicia-se com uma vigília, no sábado. É a preparação para a vinda do Espírito Santo, que comunica seus dons à Igreja nascente.
O Pentecostes é, portanto, a celebração da efusão do Espírito Santo. Os sinais externos, descritos no livro dos Atos dos Apóstolos, são uma confirmação da descida do Espírito: ruídos vindos do céu, vento forte e chamas de fogo. Para os cristãos, o Pentecostes marca o nascimento da Igreja e sua vocação para a missão universal.
Vem Espírito Santo, vem! Vivamos intensamente esta Vigília de Pentecostes! O Espírito Santo não cessa de atuar na Igreja, fazendo surgir por toda a parte novos desejos de santidade, novos filhos e, ao mesmo tempo, melhores filhos de Deus, que têm em Jesus Cristo o Modelo perfeito, pois Ele é o primogênito de muitos irmãos. E Nossa Senhora, pela sua colaboração ativa com o Espírito Santo nas almas, exerce a sua maternidade sobre todos os seus filhos. Por isso é proclamada Mãe da Igreja, quer dizer, Mãe de todo o Povo de Deus, tanto dos fiéis como dos Pastores, que a chamam Mãe amorosa. Queremos – proclamava São Paulo VI – que de agora em diante seja honrada e invocada por todo o povo cristão com esse título gratíssima. Santa Maria, Mãe da Igreja, rogai por nós e ajudai-nos a preparar a vinda do Paráclito às nossas almas.