Ser missionário
 
Um olhar de compaixão
 
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Encerrar, em poucas palavras, uma riqueza enorme de conteúdo, não deixa de surpreender. É o que Mateus faz num “sumário” ao retratar os aspectos principais da missão de Jesus (9,35-38). Este “sumário” tem a função de sintetizar a missão de Jesus em Palavras (o Sermão da montanha: Mt 5-7) e Gestos (a narração de 10 milagres: Mt 8-9) e de introduzir a missão dos discípulos (o discurso missionário: Mt 10,1-42). O que Mateus realça, em primeiro lugar, é a itinerância de Jesus. De fato, ele está sempre em movimento, tomando a iniciativa de ir ao encontro das pessoas lá onde elas vivem, não importa se o lugar é grande (cidade) ou pequeno (aldeia).

Em seguida, o evangelista chama a atenção sobre o fato de que, em qualquer lugar ou circunstância, há sempre um ponto central de referência. Nas cidades e aldeias o lugar de referência é a sinagoga; o lugar central da sinagoga é ocupado pelo ensino e pela proclamação da Palavra (a Escritura); a finalidade central da Palavra consiste em curar e libertar as pessoas de todo tipo de doença e enfermidade.

Dessa forma, a missão de Jesus retoma a caminhada do êxodo (itinerância), reinterpreta as Escrituras (ensinando), proclama a sua realização (evangelho do Reino) e, enfim, oferece uma vida plena a todos, vencendo as forças do mal que oprimem e escravizam. Além do mais, é bom lembrar que, para Mateus, a sinagoga é um elo muito importante que assegura a sua ligação com as tradições judaicas. A sinagoga não é só o lugar onde Deus e o povo se encontram, através da proclamação e da escuta da Palavra, mas é também o lugar de onde a Palavra “sai”, indo ao encontro dos outros povos.

Basta lembrar que, ainda hoje, durante a Liturgia judaica do Sábado, a assembléia canta solenemente: “De Sião sai a Torah (Lei) e a Palavra de Javé de Jerusalém” (Is 2,3).

No entanto, Mateus assinala, sem hesitação, o elemento central da missão de Jesus:

“Vendo as multidões, teve compaixão delas...” (9,36). O motivo profundo de toda a atividade de Jesus é a compaixão diante da situação de sofrimento e de abandono da humanidade (multidões cansadas e abatidas) quando suas lideranças primam por desinteresse (ovelhas sem pastor). Sem dúvida, Mateus quer incutir nos discípulos o mesmo olhar compassivo de Jesus, lembrando a sua importância em outros quatro episódios significativos: na 1a (14,14) e na 2a multiplicação dos pães (15,32); na parábola do “devedor implacável” (18,27) e na cura dos dois cegos de Jericó (20,34).

Jesus quer que seus discípulos sejam “pastores” sensíveis e tenham sempre a compaixão como ponto central de sua atividade apostólica. Por isso, de repente, Mateus muda o cenário e apresenta a imagem da colheita e dos operários, para indicar que eles estão envolvidos numa situação urgente e decisiva. O processo de amadurecimento terminou. Em Jesus chegou o tempo da plenitude e da colheita definitiva (cf. Is 27,12-13). Urge encontrar operários para que os frutos não se percam e não se estraguem.

Nesse contexto, constata-se claramente a enorme desproporção entre a imensidão do campo e a tremenda escassez de mão-de-obra:

“A colheita é grande; os operários, poucos”.

Isso poderia causar desistências:

- ou porque o campo é grande demais (objetivo impossível de ser alcançado), ou porque os operários são de menos (trabalho impossível de ser feito). Os discípulos podem superar a tentação da desistência lembrando que são apenas “colaboradores” da missão de Jesus; não são proprietários nem do campo nem da colheita! A única atitude possível que devem assumir, além da compaixão, é a de “pedir ao Senhor da colheita” que envie outros operários. Com efeito, só a comunhão com Deus, através da oração, dá força e coragem suficientes para continuar a missão de Jesus.

Autor: Sérgio Bradanini
www.pime.org.br



 
 
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