Com a palavra...
 
Sentido cristão da sexualidade
Por: Dom Fernando Mason
Bispo Diocesano de Piracicaba
 
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Por vezes questões ligadas à afetividade e à sexualidade repercutem com muita intensidade na mídia. Sobretudo quando a igreja manifesta com palavras claras sua posição.

E aí, todo mundo se julga entendido, até o profissional formado anteontem na faculdade da esquina acha que pode dizer palavras solenes e importantes sobre o quanto a igreja é retrógrada, medieval e obscurantista, insensível diante de problemas de hoje. Julga-se no direito de passar uma lição de moral à igreja.

À parte o fato de que está na hora de conhecer melhor aquela época da humanidade que chamamos de medieval, e à parte também o fato de que às vezes se atribuem à igreja posições que esta não tem (por exemplo, dizem que ela é contra o planejamento familiar, mas sempre foi a favor da paternidade responsável) é um fato que a igreja, nessas matérias, tem uma posição diferente da usual e comum.

Por que será que ela tem posição diferente?

É patrimônio da cultura ocidental, sempre recordado pela igreja, a evidência de que a pessoa deve ser "humana", isto é, deve elaborar, transcender, levar à maturidade aquilo que é por natureza, seja ela física, psíquica, de caráter ou até educacional.

Uma pessoa, por exemplo, pode ter por natureza um intenso desejo de se apropriar daquilo que não lhe pertence. Ninguém condena alguém por ter este desejo (patológico somente quando é cleptomania); mas a tal "sociedade" diz: este desejo não pode ficar solto; deve ser elaborado, transcendido, deve ser responsabilizado, inclusive nas consequências. E se roubar (pouco!) vai para a cadeia. Este princípio vale também para aquilo que usualmente consideramos positivo.

Ao falar daquelas forças positivas da natureza chamadas afetividade e sexualidade, a igreja recorda sempre que também elas devem ser "humanizadas", isto é, devem ser elaboradas, amadurecidas, responsabilizadas, transcendidas.

Ao serem humanizadas, elas se tornam outra coisa, tornam-se encontro de esposos, de irmãos, de amigos, de pais, de filhos... recorda também que, se não forem humanizadas, elas apodrecem, estragam-se, decaem inexoravelmente: a afetividade passa a ser uso possessivo, dominação do outro, e a sexualidade decai para o animalesco, comportamentos nos quais a pessoa renunciou àquilo que a caracteriza como "humana".

O que acontece, porém, quando se divulgam questões sobre afetividade e sexualidade?

Propõe-se como ideal de comportamento, ou ao menos como praxe, a não humanização da afetividade e da sexualidade.

Deu desejo? Satisfaz.

É Carnaval? Vale tudo!

E se der complicações? Há a pílula do dia seguinte...

Esta mesma sociedade lamenta depois, farisaicamente, a gravidez precoce, o abandono do estudo, a promiscuidade. Na realidade, porém, estes adolescentes aprenderam bem, até demais, a lição que a sociedade lhes deu!

É pouco demais distribuir gratuitamente preservativos, até nas escolas. O que todo mundo deve — pais, escola, mídia, pensamento comum — é fazer com que a afetividade e a sexualidade se tornem sempre mais "humanas", isto é, amadurecidas, responsabilizadas, transcendidas.

E se isso for feito tendo diante dos olhos como referencial a "estatura de Cristo", aí sim saberemos qual é a potencialidade divina escondida na afetividade e na sexualidade humanas.



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