Com a palavra...
 
Reino dos pobres e dos simples
Por: Frei Augusto Giroto
 
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Francisco de Assis quem intuiu no mundo a desproporção do projeto de Deus e a resposta do homem. O projeto de Deus foi criar o mundo em plenitude, pois foi por amor criado. Queria que a pedagogia do amor fosse implantada em todos os seres e que em tudo transparecesse a força do amor. Assim foi o projeto de Deus em Jesus Cristo, que assumiu nossa natureza humana.

O reino de Deus seria a obra de Jesus, que só seria realizada mediante uma nova forma de vida da qual o ser humano seria o principal agente e mediador. Tudo inspirado num amor que brotara do coração de Deus, manifestado em Jesus Cristo.

Jesus assumiu um humanismo novo e pleno, carregado de amor, pronto como um largo manancial a ser derramado no meio do mundo. Começou bem cedo sua obra restauradora. Já no seio materno envolve seu corpo na ternura de uma Mãe simples e pobre, assume o jeito dos homens.

No seu nascimento se manifesta aos pastores simples e pobres, como os primeiros privilegiados do seu carinho e de sua atenção. Começa uma vida pública buscando sempre e de maneira persistente a periferia da sociedade, onde se acham os marginalizados, os pobres, os pecadores e os considerados malditos pêlos grandes. São eles leprosos, prostitutas, pecadores públicos. Desencadeia uma nova dinâmica de um amor ainda não experimentado no meio dos homens. Um amor gratuito e sempre cheio de misericórdia.

Seu discurso é forte e contundente, sempre carregado pela transparência da verdade e as atitudes livres de qualquer preconceito. Há sempre uma profunda empatia entre o amor de Jesus e o vazio dos homens, por isso veio salvar o que estava perdido. Tudo ficou bem firmado nas parábolas do Filho Pródigo e do Bom Samaritano. Há em Jesus uma paixão dominante que só aconteceu porque um homem assim só podia ser Deus.

Em meio a tudo isso, acontece o estranho, o inominável, o trágico da sua vida que é a sua morte, e morte de cruz. Só é possível entender porque ele mesmo dissera: "Não existe maior amor do que dar a vida pêlos seus amigos" (Jo.15,13).

Diante de tão misterioso projeto, ficamos a pensar qual é a importância de cada um de nós. Todos passamos no pensamento de Deus e Ele nos amou, e por amor deu a sua vida. A nossa resposta de vida, por mais generosa que seja, será sempre desproporcional em relação ao amor de Deus.

O grito de Francisco de Assis retraía bem a angústia de quem queria com gratidão responder, ainda que de forma limitada, ao amor de Jesus Cristo: "O Amor não é amado". Celebrar o amor de Deus será a resposta nossa. Resposta que será proporcional ao nosso entendimento, nossa generosidade, nossa capacidade de nos doar.

Respondemos ao amor divino quando assumimos o projeto de Jesus Cristo, que veio para que todos tenham vida, e a tenham em plenitude. Projeto que contempla como prioridade os pobres, os injustiçados, os excluídos da sociedade. Assumimos esse projeto na medida em que nos comprometemos com a construção de uma nova sociedade, mais justa, fraterna e igualitária.

Deste modo estaremos impregnando o mundo dos valores evangélicos, colaborando de maneira decisiva para que se implante o reino de Deus, reino de verdade e santidade, de paz e de justiça, de amor e de perdão. Reino dos pobres, dos simples, dos humildes, como foi Jesus. E assim poderemos rezar com mais convicção: Pai nosso, venha a nós o vosso reino.



 
 
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