Havia leigos em Pentecostes ? |
Por: DOM ALOÍSIO ROQUE OPPERMANN
SCJ ARCEBISPO DE UBERABA, MG |
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O momento em que o Espírito, aquele que dirige invisivelmente a Igreja, foi derramado sobre a comunidade primeira - conhecido como dia de Pentecostes - é de primordial sentido. Chega a ser considerado o ato fundante. É o instante da “largada”.
Tudo ali é revestido de alto significado e carregado de simbolismo. Comecemos pelo local. “Entraram na cidade e subiram para a sala de cima” (At 1, 13). Com efeito, o andar superior é identificado como o local das reuniões, da oração e da contemplação. O térreo é o espaço do trabalho e da comunicação.
Com isso ficou delineado o perfil da Igreja, para sempre identificado como espaço de contemplação (sala de cima) e de apostolado (salas térreas). Nem sempre o pessoal que trabalha em cima e o que age em baixo, se entenderam com facilidade...
Também é altamente revestido de simbolismo o grupo de pessoas presentes ao momento da explosão pentecostal. É como o embrião, reduzido a poucas células, que contém toda a carga genética, o DNA. Este redundará num corpo adulto, harmoniosamente originado a partir dessa vida inicial.
Sabemos com certeza que estava presente a hierarquia. “Estavam presentes Pedro e João, Tiago e André...” (At 1, 13). Ainda hoje a comunidade eclesial precisa da presença daqueles que receberam o mandato de “pastorear o rebanho”.
Mas não havia mais gente? É evidente que sim. O autor do livro dos Atos registra: “aí estava reunido um grupo de mais ou menos cento e vinte pessoas” (At 1, 15). Bons exegetas garantem que eram os “Leigos” da Igreja primitiva, unidos ao grupo dos Apóstolos.
Portanto, na irrupção do Espírito Santo estava presente toda a Igreja: os Apóstolos, com Maria, e os Leigos. Todos foram contemplados com as línguas de fogo do Paráclito.
Mas como é possível que as pinturas – mesmo as mais modernas - retratam Pentecostes, mostrando as línguas de fogo sobre as cabeças apenas de Maria e dos Apóstolos? E os 120 Leigos não receberam também a graça de Pentecostes?
Daí a achar que a chama divina é avara com o povão vai um passo só. Essa interpretação reducionista precisa ser corrigida. Estamos em bom tempo, pois a nova evangelização, a partir do documento de Aparecida o exige. Sem os Leigos as coisas não andam.
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