Colunas
 
Inveja ao Marquês de Sade.
Por: DOM ALOÍSIO ROQUE OPPERMANN
SCJ ARCEBISPO DE UBERABA, MG
 
Leia os outros artigos
 

Este dia 19 de dezembro foi para as comunidades católicas do Brasil, especialmente para nossa arquidiocese,  um “dia de cão”. Foi a ressaca do amplo noticiário do dia anterior, que tratou em detalhes, do passo em falso dado por  um presbítero acusado de pedofilia.

Eu pessoalmente, tratei de não andar na rua, para não provocar comentários contra a nossa santa Igreja. Jesus viveu um dia desses: “Esta é a hora do poder das trevas” (Lc 22, 53). É claro, a se confirmarem as acusações, o gesto impensado do religioso não pode ser aprovado por ninguém, nem pelo seu Bispo. Mas, sobre o tratamento a ele dado por alguns veículos de  comunicação, tenho algumas  ressalvas a fazer.

Antes de tudo quero reconhecer o serviço profissional de algumas rádios, canais de televisão, e jornais. Neste grupo percebi jornalistas muito sábios e prudentes, que não jogaram lama em todo mundo, e não procuraram destruir o sacerdote. Apenas noticiaram, com objetividade profissional, os constrangedores fatos ocorridos. Não se portaram como perseguidores, mas como pessoas justas.

Mas houve um outro grupo de comunicadores, que foram péssimos profissionais. Sua atuação lembra o gesto de amarrotar um pedaço de papel. Esse papel nunca mais volta a ser liso.

O noticiário teve o objetivo de destruir e vilipendiar. Não demonstraram nenhum interesse pelo menor, eventualmente  envolvido (cujo futuro psicológico precisa ser reavaliado).

Mas a artilharia se concentrou em proscrever um ser humano. Como alguns comunicadores o trataram, ele deveria ser o maior monstro da história. Representam a parte menos nobre da sociedade, que considera o cárcere como uma vingança, e não um lugar de ressocialização. Lembram o que foi feito  ao ex-Ministro da Saúde Alceni Guerra, que foi reduzido a pó por causa de uma suposta compra de guarda-chuvas e de bicicletas.

O nominado Ministro renunciou ao cargo, e desapareceu do cenário nacional. Dois anos depois a justiça o declarou inocente das acusações...

Quanto ao infeliz caso de Comendador Gomes, todos farão bem se ajudarem a recuperar psicologicamente o menor. Mas também farão bem se ajudarem o Padre a se levantar do chão. Ele é muito novo e é pessoa muito humilde. Ele ainda pode recomeçar a vida, em sublimadas motivações.



 
 
xm732