Cristianismo e economia são inconciliáveis ? |
Por: DOM ALOÍSIO ROQUE OPPERMANN
SCJ ARCEBISPO DE UBERABA, MG |
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Numa leitura superficial das Escrituras,
poderia parecer que o Evangelho é cheio de ressentimentos
para com todos os proprietários, e também contra
a economia de mercado. A afirmação de Jesus: "Se
queres ser perfeito, vai e vende tudo o que possuis, dá-o
aos pobres, e depois vem e segue-me" (Mt 13, 44)
precisa ser entendida dentro do seu contexto.
Mesmo nos meios eclesiásticos já encontrei grupos
ideológicos, que alimentavam um ódio feroz contra
os empresários, e contra o trabalho planejado em geral.
Parece que propunham para o comum do povo, viver de esmolas,
isto é, tirar dinheiro de quem trabalha, e pensa no dia
de amanhã. No inconsciente de tais pessoas a economia
de mercado, o comércio, as atividades bancárias,
são exercícios indignos de um discípulo
de Cristo.
Tal maneira de pensar inviabiliza qualquer ética social
aplicada às atividades terrenas. Neste caso os cristãos
estariam abdicando da sua obrigação de “dominar
a terra” (Gen 1, 22). Trata-se de um equívoco
que torna inviável o verdadeiro trabalho e a própria
civilização. Pior ainda, falar em lucro –
nós nos referimos ao lucro justo - causa uma rejeição
mortal em tais intérpretes.
No que diz respeito a assuntos econômicos Jesus tinha
três orientações distintas: 1- Ele considerava
a produção agrícola, o trabalho, a fabricação
de objetos, as atividades bancárias, o uso de moedas,
uma ocupação normal do ser humano. Como vemos
isso? Através das parábolas, em cujo contexto
tudo isso aparece, sem receber nenhuma repreensão. Jesus
admitia pobres, mas não miseráveis. Veja p.ex.
Mateus 13, 1-9.
Também a Igreja, na esteira dos ensinamentos de seu Mestre
elaborou uma Doutrina Social de alta qualidade, seguida até
pelos não – cristãos, e válida na
modernidade. 2 – Aos que queriam ser mais perfeitos –
e não para todos os discípulos - além de
outras muitas recomendações, Jesus propunha uma
doutrina de despojamento dos bens terrenos.
Para poderem se dedicar mais ao amor de Deus e do próximo,
e imitarem o Mestre que “não tinha nem
um travesseiro para reclinar a cabeça” (Mt 8, 20). 3 – Mas o que nosso Redentor falava para todos,
ricos ou pobres, era a liberdade e o despojamento diante dos
bens. É nesta linha que devemos entender suas repreensões
contra os ricos. Também suas recomendações “para não se preocupar com o dia de amanhã” (Lc 12, 11).
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