Uma das constantes do cristianismo sempre
foi a de chamar a humanidade para o raciocínio. Por isso,
desde o começo os cristãos não aceitaram
a idéia generalizada de haver “carvalho sagrado”
(São Bonifácio, como ato de fé, derrubou
um carvalho, como início da evangelização
dos germanos); não existe “água santa”
(seria uma fonte na qual ninguém poderia mexer, sob pena
de castigo divino); não adotamos o costume da Índia
de não usar carne bovina porque a“vaca é
um animal sagrado” (que me desculpem os hindus). A única
presença sagrada neste universo, que a fé cristã
admite, é a do homem e da mulher, por serem imagem de
Deus. E sobretudo presença santa de Cristo, que viveu
em nosso meio.
Também as convicções cristãs não
permitem acreditar que certos lugares ou objetos (ou números)
possam ser portadores de azar. Assim, dizer que uma casa é
“azarada”, ou que “pousou urubu”, porque
já foi assaltada 5 vezes, é taxado como superstição.
Será necessário verificar as condições
de segurança, e não apelar para explicações
mágicas. Cai na mesma circunstância carregar de
“peso negativo” o número 13, ou achar que
o automóvel tem “urucubaca” porque já
participou de vários desastres. Neste caso se precisa,
antes de tudo, verificar as qualidades do motorista.
Não fica distante disso a prudência dos cristãos
em qualificar como “milagre” um fato que, à
primeira vista, nos surpreende. Se alguém fica curado
de uma terrível doença, a primeira interpretação
deve ser natural: “com a graça de Deus, o remédio
fez bom efeito, o médico teve boa intuição,
a natureza do paciente é forte”. Se isso não
explica o que aconteceu, então podemos considerar que
foi uma intervenção miraculosa de Deus. Mas só
depois de esgotar as outras explicações.
Comportar-se dessa forma, não exclui a fé no poder
divino. Não coloca ao Pai Celeste fora da realidade da
vida. É imitar Jesus, que não foi um homem caído
para devaneios, ou para visões fantasiosas. Mas chamava
a todos para o chão da vida. Com seus ensinamentos nos
mostrou que devemos estar distantes de acreditar em “forças
ocultas” que nos prejudicam, ou de buscar “soluções
mágicas” para a existência. Jesus repetiu
inúmeras vezes: “Não tenhais medo”
(Mc 6, 50). Fazer do medo uma energia para o comportamento,
é mau programa. Ele nos ensinou: “A verdade vos
libertará” (Jo 8, 32).
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