Meu caro Diácono Lucas,
“Quem tem um amigo no Senhor Jesus tem um tesouro inestimável”.
Com estas palavras, inicio, nesta noite de 30 de janeiro, minhas despretensiosas palavras, para guiar o povo de Deus na preparação para sua ordenação, que ocorrerá amanhã, nesta Basílica secular, encravada entre as montanhosas plagas mineiras e o azul do Lago dos Encantos, emoldurada pela façanha de Furnas Centrais Elétricas. Nesta noite, vai falar o meu coração. Um jovem coração sacerdotal a trazer-lhe, no outono de seu diaconato, pinceladas para que delas se lembre, sempre, em sua vida sacerdotal, que desejamos seja longa e proveitosa a Deus e à Igreja, como que luz a iluminar os seus caminhos.
Diácono Lucas,
O sacerdote é tirado do meio do povo e colocado a serviço do Povo de Deus.
Você foi tirado aqui do nosso meio, quando ainda sacristão nesta Igreja, viu crescer a sua vocação pela energia e pela tenacidade de um artista de Deus, nosso pedagogo na fé, o querido e venerado Monsenhor Victor Arantes, que para você, para mim, para Dom Dimas, será o nosso eterno Juca, o nosso eterno Pároco, pela sua presença-presente tão marcante em nossas caminhadas. Foi daqui, de uma fé barroca e tridentina, que foi se emoldurando a sua vocação, sob o olhar atento da Virgem das Dores, que na sua imagem de roca, revestida de cores roxas, sempre lembra aos que a Ela se dirigem que a vida é feita do sacrifício, da renúncia, da ascese, da busca do Transcendente que Ela sempre nos apontou: o seu filho - Nosso Senhor Jesus, nosso Redentor e Salvador.
Tirado do meio do povo, o Sacerdote é enviado, depois de sua ordenação, para animar a vida espiritual e pastoral do Povo de Deus. Por isso, caberá a você, como presbítero, ser dispensador dos mistérios sagrados, pelos sacramentos e pelos sacramentais, clareando pelo mistério que celebra e vive a existência de seus paroquianos.
Por isso, o sacerdote é HOMEM DA PALAVRA E DE PALAVRA. Homem da Palavra é aquele que prega a PALAVRA DE DEUS; palavra que é viva; palavra que é eficaz; palavra que é salvação. Assim, em primeiro lugar, o sacerdote deve ser um amante da Palavra de Deus, na sua leitura, no seu estudo, na sua reflexão, na sua espiritualidade. Porque a Palavra de Deus “é lâmpada para os meus pés e luz para os meus caminhos”. Palavra viva, atuante, eficaz. Ao se dispor a ouvir a Palavra de Deus, você será iluminado por essa Palavra de Salvação.
Homem de Palavra é aquele que, tendo a Palavra de Deus como ideário de vida, leva-a dentro de seu caráter, dentro de sua práxis humano-afetivo-espiritual, de ser reto no seu procedimento, na sua vida e na sua caridade para com aqueles e aquelas que estarão sob a sua solicitude pastoral.
Diácono Lucas,
Tirado do meio do povo, enviado para o Povo, sendo Homem da Palavra e de Palavra, você é chamado pela graça que carrega em vasos de argila, a viver a graça santificante de Deus. Ungido sacerdote, você deve ser piedoso na celebração dos sacramentos e sacramentais, externando essa piedade no estilo de vida que livremente abraça pelo celibato: o sacerdócio.
Deverá ser, então, imbuído do zelo apostólico, o mesmo zelo de Jesus, Sumo e Eterno Sacerdote, que nos ensina na pastoral que somos chamados a desenvolver a distribuir os mistérios de Deus na escuta permanente dos que nos procuram, no socorro aos pobres e desvalidos, na solicitude para com os que sofrem do corpo e da alma, privados por tantos males e doenças que levam-nos ao desânimo, ao descrédito e à desolação. Você passa, como sacerdote, a ser enviado como aquele que “vem para curar os corações feridos”.
Na Constituição Apostólica “Pastores Dabo Vobis”, o Servo de Deus João Paulo II diz que somos chamados a “viver em íntima comunhão e familiaridade com o Pai, por meio de Jesus Cristo, no Espírito Santo” (PVD 45-46). Daí, concluímos que a primeira missão do presbítero é viver a santidade presbiteral. Por isso, amanhã, ao ouvir a voz maviosa de Dom Diamantino Prata de Carvalho a perguntar-lhe se você está disposto a unir-se cada vez mais a Cristo, Sumo Sacerdote, que se entregou ao Pai por nós, e ser com Ele consagrado a Deus para a salvação dos homens, deverá responder um “sim” decisivo, como São Paulo que nos ensina a nos identifcarmos com o Cristo, consciente e pessoalmente, porque “é Cristo que vive em mim” (Gal. 2,20).
Amanhã você fará uma consagração total e uma entrega plena ao divino. Você, homem, se divinizará para atualizar os mistérios de nossa fé. O seu compromisso amanhã e por toda a sua vida deverá ser de um amor indiviso. Por isso, desejo-lhe que viva a tertúlia: amor à Verdade e amor à Palavra de Deus. Nas palavras de Dom Aloísio Roque Oppermann, o padre “é para o povo cristão e testemunha da Verdade Revelada”. “Vós sereis minhas testemunhas” (At 1,8). Testemunho que nos pede, se necessário for, até o martírio, morrer em nome de Cristo, da Igreja e do seu sacerdócio.
O povo, sedento de Deus, vai querer vê-lo, tocá-lo, ouvi-lo. Mais do que isso, desejará que seja sempre disponível, autêntico, singelo, porque o que pregar deverá viver e o que viver deverá transparecer em sua vida de padre e de homem.
Na busca da Verdade, que é a Trindade, você deverá ser essa testemunha qualificada da Verdade, isto é, da Palavra de Deus, que é Jesus Cristo. Assim, deverá ser vigilante no trato com as pessoas. Para com os áulicos, prudência; com os afastados, carinho de Pai e ternura de Mãe; com os que não têm fé, o testemunho do Cristo que está no meio de nós, chamando-os à comunhão eclesial. Se assim agir, anunciando o Cristo pela pregação, pela voz, pelo escrito, pelo canto, pela arte e pelo testemunho, você será um sacerdote segundo o Coração de Jesus.
Diácono Lucas,
Monsenhor Dr. José Procópio de Magalhães, já idoso, sem poder descer as escadarias do Seminário do Ipiranga, deixou um exemplo magnífico: atendia metodicamente os pobres que iam procurá-lo. Generoso, sabia amar aos pobres, pagava-lhes as receitas e outras depesas necessárias. O traço característico da personalidade de Monsenhor Procópio era ter o coração cheio de caridade, sempre aberto para os pobres, tornando-se para eles a presença instrumental da Providência que cuida dos lírios, das aves e dos abandonados da terra. Esperamos que você percorra essa via da mais tradicional e autêntica estirpe do clero mineiro.
Meu caro Diácono Lucas,
O Evangelho de Marcos, cuja narrativa acompanhamos no ano de 2009, nos relata no capítulo 8, versículo 2, que Jesus compadeceu-se da turba que, há três dias, não tinha o que comer. E lhes deu o pão necessário para matar a fome.
Neste vasto campo de missão, a centenária Diocese da Campanha, você será o bom pastor que levará o pão da Palavra de Deus para a turba que vive sem pastor. Será presença fraterna, humilde, amorosa de quem representa a verdade, o Senhor Jesus. Assim, quero dizer-lhe, ao arrematar minhas palavras, que quatro devem ser os seus companheiros a partir de amanhã: o genuflexório, o Evangelho, o cajado de peregrino e um coração enfartado de misericórdia e de amor pelos pobres, pelos sofridos, pelos que choram, pelos que perderam a esperança.
Do alto do orago da Virgem Dolorosa, da Virgem da Esperança, da Virgem da Boa Esperança, você seja esperança de Deus contra toda a esperança dos homens.
|