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O valor do malogro
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG.
 
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Estamos em plena efervescência dos Jogos Pan-americanos. Há vitórias e recordes em diversas modalidades disputadas pelos atletas e aplaudidas por todos nós. A “mídia” ajuda e estimula colocando os vitoriosos no topo do podium, sustentados financeiramente pelos patrocínios. Há também derrotas amargas e decepções. Vimos, antes mesmo do início dos jogos, um acidente que, na esgrima, quase tirou a vida de um jovem. Daí segue-se o esquecimento dos meios de comunicação e do público, quando não a chacota.

Gostamos de nos experimentar, de ousarmos e corajosamente enfrentar o perigo levando longe nossa ambição de vencer. E quanto mais aspiramos, quanto maior for nossa vontade e nossa coragem e força, maior peso sentimos em nosso espírito que se traduz no abatimento moral se não o conseguimos. Imediatamente surgem em nossa consciência as causas da derrota que martirizam mais se demonstram que sua causa foi de nossa responsabilidade.

As competições servem muito para nos mostrar o que com muito mais freqüência ocorre em nossa vida. Os malogros, as decepções por não atingirmos os objetivos a que nos propomos, seja na vida material, na família, na profissão, no emprego e até na vida espiritual.

Nos dias que correm as dificuldades a vencer são enormes. Somos instados pela propaganda, pela imprensa, rádio, televisão ao “ter” mais, mesmo se os recursos forem  poucos. A licenciosidade dos costumes nos provocam e deixamos cair as fichas de nossos compromissos. Então vemos por toda a parte pessoas angustiadas, deprimidas, e que, muitas vezes, buscam lenitivo nas sessões de psicanálise ou em métodos de seitas orientais, pior, quando não se entregam à bebida e as drogas sem controle.

Há malogros parciais, fracassos que não nos prejudicam, como também há êxitos que nada valem. Sobretudo aqueles que procuram a glória efêmera. Dependendo de nossa coragem, da elevação de nosso pensamento os superamos

Mas, há também, e tantos, que empenham toda a nossa existência. É o fracasso total definitivo. Atingem a nossa vida em cheio. Tudo escurece à nossa frente. Não há saída.

Haveria motivo para se considerar então vencido? Não. O importante é não nos deixarmos induzir ao desespero. Termos pensamento positivo, como dizem muitos. Santo Tomás rezava: “Daí-me, Senhor, a força de realizar o que posso, aceitar o que não posso e a graça de distinguir uma coisa da outra”

Nem mesmo pessoalmente poderá a derrota ser definitiva se não se quiser. Que importará, diante da eternidade a que nos destinamos, ter estado aqui ou ali, obtido isto ou aquilo ou tê-los perdido?

O Profeta Jeremias apontava os rumos, quando dizia da infelicidade do homem que projeta sua confiança nas coisas humanas. Seria como a planta que morre sedenta no deserto. Mas ditoso o homem que põe sua esperança no Senhor. Nele supera os ventos e as tempestades, mesmo quando tudo parece submergir no mar da vida.

No Sermão da Montanha, Jesus nos mostra na realidade da natureza a presença da mão divina que nutre as aves do céu e veste os lírios do campo e provoca-nos à fé. Exemplifica com os estrangeiros que o procuram como o centurião e a mulher cananéia.

Nas aflições e nas tormentas, devemos ter a humildade e a confiança de Davi quando fugia de Saul que o perseguia,  e nos abrigar  no seio divino: “Tem piedade de mim, Senhor, porque em ti me refugio.Abrigo-me à sombra de tuas asas até que passe a calamidade.” (Cf. Salmo 57)

No sofrimento de certo modo total de um desastre na vida, ainda que por nossa culpa, é o momento de mergulharmo-nos no oceano infinito da misericórdia de Deus e Ele nos sustentará.

No fracasso total de sua vida, sob o ponto de vista humana, no alto da cruz, Jesus não se desesperou. Lamentou o seu desamparo, mas, confiante nas mãos do Pai entregou o seu espírito.



 
 
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